Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Quais são os termos da língua umbundo que têm uma certa influência na língua portuguesa?

Resposta:

Se está a referir-se a palavras, aconselhamos a consulta da tese intitulada Contributos para Uma Caracterização Linguística do Luandense (Universidade de Aveiro, 2010), de Cristina Bento, na qual a autora identifica alguns vocábulos usados no português de Luanda como provenientes do umbundo (pág. 55), que a seguir se transcreve com uma maior precisão solicitada ao jornalista Maia Alfredo, da Rádio N'Gola Yeto, o canal das língua nacionais da Rádio Nacional de Angola:

– loengos, de olohengo (plural), «frutos silvestres».

[loengo, de oluhengo (singular)]

– losakas, de olosaka, «beringelas».

[olusaka, de olusaka (singular)]

– suanga , de eswanga (singular e plural) «esparregado de folhas de mandioqueira».

– seculo, de sekulu, «o mesmo que cota»; ancião, idoso.

[olosekulu (plural), anciãos, idosos.]

Veja, ainda, estes dicionários de Português-Umbundo e de  Umbundu-Português 

Cf. 

Pergunta:

Relativamente a um esclarecimento de 1999, parece-me que não está em conformidade com a informação do Dicionário Terminológico:

«Verbo cuja flexão se afasta da flexão do paradigma a que pertence. As irregularidades podem afectar o radical ou os sufixos de flexão. Algumas irregularidades são meramente gráficas. Nos verbos irregulares há formas regulares. Exemplos posso/podes/podemos – medir/meço/medisse – ficar/fiquei – caçar/cacei – chegar/cheguei».

Estarei errada?

Desde já, a minha gratidão.

Resposta:

A rigor, caçar e chegar não são verbos irregulares, embora se compreenda que, no contexto escolar, estes possam ser considerados como tal.

O Dicionário Terminológico parece realmente sugerir que casos como os de caçar/cacei e chegar/cheguei se incluem entre os irregulares. Não é o que faz a tradição gramatical, pelo menos, a que é seguida por Celso Cunha e Lindley Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo (1984, pág. 411/412):

«É necessário não confundir irregularidade verbal com certas discordâncias gráficas que aparecem em formas do mesmo verbo e que visam apenas a indicar-lhe a uniformidade de pronúncia dentro das convenções do nosso sistema de escrita. Assim:

a) os verbos da 1.ª conjugação cujos radicais terminem em -c, -ç e -g mudam estas letras, respectivamente, em -qu, -c e -gu sempre que se lhes segue um -e:


ficar – fiquei
justiçar – justicei
chegar – cheguei

b) os verbos da 2.ª e da 3.ª conjugação cujos radicais terminem em -c, -g e -gu mudam tais letras, respectivamente, em -ç, -j e -g sempre que se lhes segue um -o ou um -a:


vencer – venço – vença
tanger – tanjo – tanja
erguer – ergo – erga
restringir

Pergunta:

Gostaria de saber se a sigla W é válida para designar o ponto cardeal oeste na língua portuguesa, não considerando o novo acordo ortográfico.

Grata pela vossa atenção.

Resposta:

No quadro do Acordo Ortográfico de 1945, pode usar W como símbolo (não se trata de uma sigla) de oeste – em rigor, em alusão à forma inglesa correspondente, west (Cf. Rebelo Gonçalves, Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa, 1947, p. 2).1 Pode, no entanto, usar igualmente O. como abreviatura desse ponto cardeal (cf. Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado). Note-se que o uso de W como símbolo de oeste é mantido no novo acordo ortográfico.

 

1 No Brasil, o Formulário Ortográfico de 1943 apresenta W. com ponto, ou seja, como abreviatura; contudo, o Dicionário Houaiss, na sua 1.ª edição (2001), regista W sem ponto, como símbolo, portanto. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, o qual foi publicado em 2009 já com as atualizações correspondentes à aplicação do novo acordo, acolhe as duas formas, com (W.) e sem ponto (W).

Pergunta:

Gostaria de saber como se escreve: "ortóptista" ou "ortoptista" e porquê, por favor?

Resposta:

Diz-se e escreve-se ortóptica, «ramo da oftalmologia que se ocupa da avaliação, medida dos desvios oculares e reeducação dos olhos em caso de problemas da visão binocular, como estrabismo, heteroforia etc.» (Dicionário Houaiss), e ortoptista, «técnico especializado na correção reeducativa do estrabismo e das heteroforias» (Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, disponível na Infopédia).

A forma ortoptista não tem acento porque é uma palavra grave, como são todas as que apresentam o sufixo -ista (turista, colunista, budista).

Pergunta:

Há alguma palavra grave terminada na consoante z e acentuada graficamente?

Agradecia esclarecimento.

Resposta:

Na tradição ortográfica do português, qualquer palavra que se escreva com z final é aguda. Assim, pode ler-se no Acordo Ortográfico de 1945, Base V, 5.ª:

«[...] deve observar-se que é inadmissível z final equivalente a s em palavra não oxítona: Cádis, e não Cádiz. »

Daqui se deprende que z final ocorre sempre em palavra oxítona, ou seja, aguda.

Saliente-se que o Acordo Ortográfico de 1990 não altera esta regra.