Pergunta:
É tema gasto, mas sem resposta satisfatória.
Vários dicionários só aceitam impudico, mas o Portal da Língua Portuguesa aceita impúdico.
Afinal, qual é a grafia «correta»?
Resposta:
Continua a não haver resposta satisfatória. À luz da norma mais conservadora não se aceita, muito embora haja registos dicionarísticos das formas acentuadas.
A insatisfação com as formas púdico e impúdico terá mais de 100 anos, de acordo com o apontamento que escreveu, também há bastante tempo (mais de 60 anos), Vasco Botelho de Amaral, no seu Dicionário de Dificuldade e Subtilezas do Idioma Português. Note-se que nestes casos, a terminação -ico não vem do sufixo pós-tónico greco-latino -ĭcus, cujo i é breve, mas sim de uma terminação latina que recebia acento tónico no i (longo) de pudīcus.
Botelho de Amaral atribuía a interferência espanhola o uso de púdico, origem que não se pode aqui confirmar, mas que coincide com a fixação da forma púdico em espanhol (cf. dicionário RAE). No entanto, cabe perguntar se a forma esdrúxula não resultará de uma interpretação errónea (hipercorreta) do francês pudique no período em que a leitura nessa língua era frequente nos meios burgueses e aristocráticos de Portugal (e, porque não?, de Espanha). Com efeito, projetando o uso de pudique no português e havendo desconhecimento da forma etimológica latina, é possível que muitos falantes tenham julgado que a terminação francesa deveria ser transposta como o sufixo átono -ico e, por hipercorreção, a palavra deveria assumir a forma púdico. Não é aqui possível aprofundar a questão.
Em todo o caso, refira-se que, em 1966, Rebelo Gonça...