Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Em engenharia usamos muito o prefixo iso-, por exemplo, isobárico para significar que um processo se realiza à mesma pressão. Para um outro que se realize com a mesma entropia, como devemos usar o prefixo iso-? "Isoentrópico", ou "isentrópico"?

Muito obrigado!

Resposta:

O elemento de composição iso- junta-se ao elemento seguinte sem hífen e sem apagamento de vogal inicial, se for esse o caso. As formas corretas são, portanto, isoentropia e isoentrópico.

Pergunta:

Diz-se «andar ao pé-coxinho», ou «andar a pé-coxinho»?

Resposta:

Aceitam-se as duas formas: «ao pé-coxinho» e «a pé-coxinho». Exemplos (retirados do Corpus do Português):

(1) «[...] propõe-lhe uma corrida a pé-coxinho até à entrada da aldeia [...].» (Luísa Costa Gomes, O Fosso e o Pêndulo).

(2) «É grande amigo da Sofia mas ele critica-se melhor em pensamento do que a jogar ao pé-coxinho» (Rúben A., Páginas, 1988).

Pé-coxinho significa «espécie de jogo de crianças» e «ato de caminhar com um só pé, suspendendo o outro» (Cândido de Figueiredo, Novo Dicionário da Línga Portuguesa, 1913, disponível em linha).

Pergunta:

Quero saber se está correta essa regência do verbo pedir: «Eu não pedi por comida.»

Abraço.

Resposta:

Em português, o verbo pedir é transitivo direto e indireto: «pedir alguma coisa a alguém». Por outras palavras, a coisa pedida tem a função de complemento direto e ocorre na frase sem preposição; portanto, a forma correta é «eu não pedi comida». A preposição por só se associa a pedir, quando se pretende dizer que a ação de pedir é feita a favor de alguém como em 1.

1. «Pedi comida pelos meus filhos.»

O complemento introduzido por por também pode dizer respeito àquilo que motiva o pedido, que não é o mesmo que a coisa pedida (cf. Dicionário Houaiss):

2. «Pediu uma exorbitância pelo apartamento.»

3. «Pediu perdão pelos pecados cometidos.»

Pergunta:

Diz-se «Vossa Excelência é esperta...», ou «Vossa Excelência é esperto...»?

Obrigado.

Resposta:

A concordância dos adjetivos é feita em função do interlocutor (fala-se em silepse): a uma mulher dir-se-á «Vossa Excelência é esperta»; a um homem, «Vossa Excelência é esperto». Esta regra é extensível à forma de referência «Sua Excelência»:

«É de observar [...] que, se o sujeito é "Vossa" ou "Sua Excelência", o adjetivo concorda com a pessoa a quem se dá semelhante tratamento: "Vossa Excelência está incomodado" (com referência a homem). "Sua Excelência é muito bondoso." É a chamada concordância latente» (Vasco Botelho de Amaral, Grande Dicionário de Dificuldades e Subtilezas do Idioma Português, 1958, reedição de 2012, pág. 1127).

Pergunta:

Gostaria de saber se longevo se pronuncia com o e aberto (é), fechado (ê) ou átono (e), como em de?

Também vos perguntava se existe algum dicionário de português com a componente áudio onde se possa ouvir a pronúncia das palavras?

Obrigado.

Resposta:

Para o adjetivo longevo, que significa «que dura muito; muito velho» (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa), a pronúncia mais tradicional em Portugal é com e aberto, mas existe a que tem e fechado ("ê"), sem constituir erro claro. Embora o Dicionário Priberam, que diz respeito ao português de Portugal, registe em indicação ortoépica que a palavra pode ter o e aberto ou fechado, um outro dicionário destinado ao público português – o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora – e o Vocabulário Ortográfico do Português (VOP), do ILTEC, transcrevem a palavra com "ê" (fechado). A palabra não pode é apresentar o e mudo típico do português europeu, porque esta vogal apenas ocorre em sílaba átona.

Por seu lado, os dicionários elaborados no Brasil indicam que longevo tem e aberto (cf. Dicionário Houaiss, Aurélio XXI e Dicionário UNESP do Português Contemporâneo). Mas Maria Helena de Moura Neves (Guia de Uso do Português, São Paulo, Editora UNESP, 2003) considera que a pronúncia varia, apesar de a tradição prescrever o e aberto.

Em suma, não são convergentes os juízos normativos sobre esta palavra, cujo uso, de resto, parece confinado aos registos formal e literário.

Quanto a dicionários de português com ficheiros áudio, ainda se aguarda o seu aparecimento. No entanto, há dicionários com transcrição fonética, por exemplo, o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa (que não regista longevo) e o Grande Dicionário da Língua Portugue...