Pergunta:
Na frase «associamos aquela época a um mundo de barbárie», qual é a função sintática de «a um mundo de barbárie»?
Se atentarmos na definição de complemento indireto apresentada na vossa página por Edite Prada:
«[...] o complemento indireto tem, segundo a Moderna Gramática Portuguesa de Bechara, pág. 42, as seguintes características:
a) «É introduzido pela preposição a ou mais raramente para»;
b) a palavra que o expressa «designa um ser animado ou concebido como tal»;
c) «expressa o significado gramatical de ‘beneficiário’ ou destinatário»;
d) «é comutável pelo pronome pessoal objetivo lhe/lhes» (= a ele/a eles).
Pela descrição de Bechara, podemos concluir que o complemento indireto é um nome antecedido de uma preposição que pode ser a ou para.»
Se procedermos à substituição de «a um mundo de barbárie» por lhe, obtemos a frase: «Associamos-lhe aquela época.». Esta frase suscita-me duas questões. Por um lado parece-me que a sua aceitabilidade é discutível, por outro acho que não preenche a característica enunciada em c). Em síntese, «a um mundo de barbárie» é ou não um complemento indireto?
Agradeço o vosso trabalho.
Resposta:
O caso apresentado situa-se, como bem observa a consulente, nos limites do que pode ser construído como complemento indireto. Mas a sequência «associamos-lhe aquela época» está correta.
O grupo preposicional «a um mundo de barbárie» é corretamente substituível pelo pronome átono lhe (também chamada, em estudos mais especializados, forma de dativo do pronome átono) e desempenha a função de complemento indireto, mas, do ponto de vista semântico, não tem os valores típicos dos constituintes com essa função [ver as alíneas a) a d) da citação feita na pergunta]. Ora, na definição de uma categoria, não se julgue que as entidades e os comportamentos que estas evidenciam têm de satisfazer todos os critérios de tal definição; pelo contrário, muitas vezes detetam-se exceções, e um critério ou dois podem não ter correspondência na forma linguística examinada. No caso vertente, o grupo preposicional pode ser substituído por lhe, não porque marque destinatário ou beneficiário, mas mais por marcar um valor próximo do chamado dativo de interesse ou ético ou até de posse («associar a» como equivalente a «ser sócio de»).