Pergunta:
Gostaria de saber qual a regência verbal do verbo roubar quando se indica a entidade roubada. Penso que haja uma diferença entre o português europeu (PE) e o português brasileiro (PB), no sentido de no PE a regência ser a e no PB a regência ser de.
Penso também que a é possível no PE, mas creio que com uma mudança de papel semântico, dando origem a uma frase distinta e com um foco diferente:
«Roubaram o doce ao menino.» — O menino foi vítima de um assalto (PE, impossível no PB).
«Roubaram o doce do menino.» — O menino foi vítima de um assalto (leitura PB), ou houve um assalto e foi levado o doce que pertencia ao menino –de Alvo para Fonte, talvez? – (leitura PE).
Obrigada pela atenção.
Resposta:
Pode-se confirmar que, no português do Brasil, se atesta o uso da preposição de na construção de um complemento oblíquo que parece ter os mesmos papeis temáticos que as construções só com complemento direto («roubar alguém») ou com complemento indireto introduzido pela preposição a («roubar algo a alguém»):
1. «Diziam que só roubava dos ricos [...]» (Maria Helena de Moura Neves, Guia de Uso do Português, 2003, s.v. roubar)
2. «Como é que tinha tido coragem para roubar de um homem como Seu Saldanha?» (Francisco Inácio Peixoto, Chamada Geral - Contos, 1982, in Corpus do Português)
Mas não se confirma que «roubaram um doce ao menino» seja impossível em PB, porque os registos dicionarísticos atestam o uso de «a alguém» (cf. roubar no Dicionário Houaiss). Também não se verifica que a leitura «foi levado o doce do menino» seja exclusiva do PB.
Em suma, «roubar alguma coisa de alguém» é um esquema sintático de roubar que pode ser mais característico do PB, mas tal não significa que só exista essa leitura ou que outros esquemas não sejam possíveis nessa variedade.