Pergunta:
Compreende-se que o verbo chover tenha as suas limitações com referência às conjugações nas diferentes pessoas. Todavia não o compreendo para o verbo aprazer. Quer o Priberam, quer a Porto Editora, registam apenas as terceiras pessoas do singular e do plural. Não estará correto, portanto, referir "apraz-me"? Qual a denominação para este tipo de verbos? Não é este verbo sempre reflexivo?
Obrigado.
Resposta:
Trata-se de um verbo defetivo (mais precisamente um verbo unipessoal), e o exemplo apresentado na pergunta está correto, pois confirma a defetividade do verbo, a qual tem fatores históricos.
Sendo apraz uma forma da 3.ª pessoa do singular do presente do indicativo do verbo aprazer deve observar-se que a sequência «apraz-me», embora inclua um pronome átono, não configura a ocorrência de um verbo reflexivo. Na verdade, o verbo aprazer é transitivo indireto, isto é, seleciona um complemento indireto:
1. «Este casaco não apraz ao príncipe.»
A frase 1 pode ser alterada pelo processo de pronominalização do complemento indireto:
2. «Este casaco não lhe apraz.»
A frase 2 evidencia a possibilidade de o verbo em apreço ter um complemento indireto pronominalizável como lhe. Se o complemento se referir ao sujeito do enunciado, o pronome é me:
3. «Este casaco não me apraz.»
Nos exemplos 2 e 3, os pronomes átonos sublinhados não podem ser reflexos ( também se diz reflexivos), porque não têm a mesma referência que o sujeito das frases, ou seja, «o casaco».
Acrescente-se que nas frases acima o verbo aprazer pode passar ao plural, desde que se mantenha a 3.ª pessoa (não se aceitam, portanto, formas como "aprazo", "aprazes", "aprazemos", ou "aprazeis":
4. «Este casaco e aqueles sapatos não...