Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria de saber se é válida ou merece alguma censura a utilização do termo "essenciais" com o significado de "produtos essenciais". Esta utilização é cada vez mais frequente no setor do comércio.

Alguns exemplos:

«Essenciais para carro» (Lidl)

«Essenciais para a escola» (Apple)

«Essenciais para casa» (H&M)

«Lista de essenciais» (Público, Fnac, entre outros).

Obrigado

Resposta:

É anglicismo semântico, pois trata-se da tradução literal do inglês essentials, o mesmo que «coisas essenciais» (cf. Linguee). Conforme o contexto, pode este termo também ser equivalente a «aspetos essenciais»,«elementos essenciais», «condições essenciais» etc. Em suma, em português, pode empregar-se essenciais, mas sempre a acompanhar nomes como os atrás exemplificados ou outros.

Pergunta:

Gostaria de saber a forma correta do plural da palavra "pólis", pois tenho pesquisado e encontrei as seguintes formas: "póleis", "poleis", "pólis".

Muito obrigada!

Resposta:

Quando se usa pólis em português, mantém-se a mesma forma no plural. A forma póleis configura um plural, mas no grego clássico, e não em português.

Pólis significa «cidade-Estado, na Grécia antiga» e «um estado ou sociedade, especialmente quando caracterizado por um senso de comunidade» (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, edição eletrónica, 2001). É adaptação do grego clássico pólis, eós (πόλις, πόλεως), «cidade» (cf. ibidem e Wiktionary).

Também ocorre como elemento de composição (Florianópolis, Petrópolis, Metrópolis), tendo a variante -pole (acrópole, metrópole, necrópole).

Pergunta:

Qual a grafia correta e atual do nome que rio que passa por Leiria? Qual o acordo ortográfico que sustenta a designação atual?

Resposta:

Lis é a grafia correta do nome do rio em questão.

A grafia não tem tido alteração, pelo menos, desde 1940, ano de publicação do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa, no qual já figura o potamónimo (nome de rio) em apreço com a grafia Lis.

Já se propôs que Lis se relacione com a raiz de lusitano e de Olisipo, bem como com a raiz indo-europeia *lei, «verter, fluir». Mas é provável que Lis seja nome que fixou tardiamente, com origem erudita, no francês lis, que significa «lírio»2. O nome que, em relação ao rio em causa, as fontes medievais documentam é Heirena3.

1 Cf. José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa.

2 Cf. L. J. Ramos, "Leirena - Estudos distritais e dicocesanos. Lis e Lena.",A Voz do Domingo, 23/03/1963.

3 Cf. José Pedro Machado, op. cit.

 «Póvoa de Varzim» e «Póvoa
Os artigos definidos e alguns topónimos

O nome da cidade de Póvoa de Varzim aparece muitas vezes dito e escrito como "Póvoa do Varzim", uso que encontra pararelo noutros casos da toponímia de Portugal. Um texto de Carlos Rocha sobre os topónimos e a eventualidade de terem o artigo definido associado.

Pergunta:

Podiam dizer-me o significado da expressão sublinhada na segunda frase no diálogo?

– Eram dois ladrões. Foram presos na sexta-feira.

Já não era sem tempo, mas, se calhar, daqui a três ou quatro meses já estão cá fora outra vez e voltam a fazer o mesmo.

Resposta:

A expressão «já não era sem tempo» (ou, como o verbo no presente, «já não é sem tempo») significa «finalmente», «já estava a demorar», «já tardava».

O Dicionário Houaiss regista como subentrada de tempo a locução «já não ser sem tempo» com o significado de «já tardar, já vir fora de hora» e abonada pelo frase «finalmente saiu o pagamento, e já não foi sem tempo». António Nogueira Santos, em Novos Dicionários de Expressões Idiomáticas – Português (Lisboa, Edições João Sá da Costa, 2006) consigna como uso familiar a expressão «já não é sem tempo» com significado próximo do atribuído pela fonte brasileira: «já é um tanto tarde; deveria ter sido antes».