Pergunta:
Gostaria de saber se para além das vibrantes simples – vibrante simples alveolar e vibrante simples retroflexa –, existem outros róticos em posição final de palavra no português de Portugal.
É que posso ouvir um r estranho nalguns portugueses que parece aspirado, por exemplo, nas palavras melhor, mulher, ou assibilado, por exemplo, na palavra sempre, quando o e átono final não é pronunciado.
Caso existam, também gostaria de saber, por favor, que símbolos do Alfabeto Fonético Internacional representam estes róticos.
Faço a pergunta, porque a ocorrência destes sons no português de Portugal não está descrita na bibliografia de consulta essencial para o estudo das diferentes variedades da língua portuguesa que existem em Portugal.
Fico à espera da sua resposta, que antecipadamente agradeço.
Resposta:
Sobre a consoante vibrante simples – ou seja, um rótico, termo usado nos estudos especializados para referir as consoantes vibrantes1 – do português de Portugal, sabe-se, de facto, que há variação na sua pronúncia. Contudo, parecem escassas as descrições que apontem para a articulação aspirada ou assibilada dessa vibrante – sem isto querer dizer que não existam.
Geralmente, trata-se de uma consoante que pode ocorrer em quatro posições:
– entre vogais: nora;
– depois de consoante oclusiva ou fricativa (labiodental)2 e antes de vogal: cruel, gruta, dentro, medronho, sempre, abrir, fresco, livre;
– entre vogal e outra consoante: corta;
– ou, ainda, a fechar palavra – mar.
Em Portugal, esta consoante tem correspondido geralmente a uma vibrante alveolar simples (símbolo fonético [ɾ]), igual ou muito semelhante à que se ouve em espanhol, quando o r é intervocálico (para, ahora). Mas regionalmente – e, com maior frequência, entre falantes mais jovens –, esta consoante é produzida como vibrante simples retroflexa (símbolo fonético [ɽ]), a qual soa próxima do r