Carlos Rocha - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Rocha
Carlos Rocha
1M

Licenciado em Estudos Portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em Linguística pela mesma faculdade e doutor em Linguística, na especialidade de Linguística Histórica, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Professor do ensino secundário, coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacado para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Peço que me informem, se possível, da origem e sentidos das seguintes palavras: "roxina", "marigada" – esta, é certo, que na Beira Baixa significa «romã».

Obrigado.

P. S.: Envio imagem com exemplo do termo Roxina em Portugal, com x.

 

Resposta:

Sobre Roxina, que será nome próprio e faz parte do topónimo Rua da Roxina, em Benquerença (Penamacor, Castelo Branco), não foi aqui possível encontrar registo em fontes dicionarísticas ou enciclopédicas. No entanto, no distrito de Castelo Branco, na vila de Monsanto, há (ou havia) um Casal do Roxine, de configuração semelhante à do nome em apreço (ver Américo Costa, Dicionário Corográfico de Portugal Continental e Insular, 1948).

Não podendo enquadrar devidamente este nome, abre-se um leque de conjeturas, procurando pela semelhança fonética com outras palavras lançar alguma luz sobre a questão. Assim, convém mencionar rochina, forma homófona, que significa «variedade de mandioca», segundo o Dicionário Houaiss, que também lhe atribui origem obscura. Um artigo de investigação também consigna rochina, no sentido genérico de «farinha». Torna-se, porém difícil justificar a motivação do uso de rochina como nome de um lugar ou de uma rua. Encontra-se também a forma arrochinar, que significa «apertar», e cuja sonoridade sugere alguma afinidade com Roxina. Outra possibildiade ainda é a de este nome corresponder, afinal, a rechina, que, no Alentejo, se usa (ou usava) no sentido de «sopa de sangue de porco» e «calor forte» (Dicionário Houaiss), bem como «a pleno sol» («estar à rechina do sol»; cf. Revista Lusitana, vol. X, p. 240).

Quanto a marigada, há bastante informação. É uma variante de milgrada, o mesmo que romã (cf. dicionário de Cândido de Figueiredo, s. v. milg...

<i>Oligarquia</i>, <i>oligarca</i> e <i>oligárquico</i>
Etimologia e significado

Oligarca entrou no léxico corrente com o desenvolvimento da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Trata-se de uma palavra até recentemente pouco usada no discurso mediático, cujos significados e origem, Carlos Rocha, coordenador executivo do Ciberdúvidas, explica neste apontamento. 

Pergunta:

Em referência ao Campeonato Africano das Nações, eu pensava que o género seria masculino, tendo em conta o género da primeira palavra (campeonato), mas escuto pelas rádios portuguesas «a CAN», o que me deixa totalmente perdido.

Resposta:

Diz-se «o campeonato», porque se trata do Campeonato Africano das Nações, que tem CAN como sigla. Sendo assim, será de esperar a atribuição do género masculino à referida sigla: «o CAN».

Acontece, porém, que, em português, este campeonato tem outras duas designações: Taça Africana das Nações e Copa Africana das Nações, que inclui a palavra copa, típica do português do Brasil. Esta última denominação também se abrevia pela sigla CAN, que legitima o uso no género feminino: «a CAN».

Convém observar que, em certas páginas da comunicação social, ocorrem usos redundantes e algo incongruentes, como o seguinte:

(1) «Os Camarões carimbaram o passaporte para a final da Taça das Nações Africanas (CAN) com uma vitória por dois golos sem resposta frente ao Gana» (Euronews, 02/02/2017).

Em (1), associa-se a forma CAN a uma expressão cuja sigla deveria ser "TNA". Parece, portanto, empregar-se CAN sem noção do que esta representa, e atribui-se-lhe o género feminino, porque se subentende «a taça CAN». Se este subentendido é legítimo, menos aceitável, no entanto, é escrever «Taça das Nações Africanas (CAN)», porque se apresenta uma sigla não correspondente à expressão por extenso.

Pergunta:

Devemos dizer e escrever «ter pressa de» ou «em»? Por exemplo: «Tenho pressa de/em publicar este livro.

Obrigado.

Resposta:

Diz-se das duas maneiras, como evidencia, por exemplo, uma consulta do Corpus do Portugués:

(1) «Tinha pressa de chegar à beira do Germano, homem idoso, mas, ainda lesto, desembaraçado. » (João de Araújo Correia, Carta de Óbito)

(2) «Quando chegou à fonte viu a clareira coberta de ovelhas, que empurrando-se em silencio, furando, cahindo e mordendo o pó que levantavam, tinham pressa em chegar á grande pia de pedra, para beber.» (Júlio Dantas, Os Gallos de Apolo, 1921)

Dicionários de regências nominais – o de Celso Pedro Luft e o de Francisco Fernandes, ambos brasileiros – confirmam estes usos com exemplos literários quer do Brasil quer de Portugal.

Pergunta:

Qual é/seria o adjetivo pátrio reduzido de catalão?

Obrigado.

Resposta:

Na prática, excecionalmente, não há forma reduzida, porque a forma possível – catalano- – é obviamente mais extensa que catalão.

Em compostos coordenados, do mesmo tipo que lusofalante e anglo-português ou franco-belga, e tal como a alemão corresponde alemano (ainda que esta forma seja rara, dado que em compostos coordenados se prefere germano-), infere-se a forma catalano-, de catalão: catalanofalante1, catalano-francês.

 

1 Cf. Dicionário Houaiss, versão eletrónica (2001)

Cf. Cinco mitos sobre o catalão