Pergunta:
Por que se diz a expressão «boa esperança»? Dessa forma, como «Nossa Senhora da Boa Esperança», «fazenda Boa Esperança», etc.?
O uso do adjetivo se dá por ênfase, já que se espera que toda esperança seja boa, sendo estranho ter-se uma «má esperança»?
Muito obrigado, desde já.
Resposta:
Será preciso ir à história do português, quando esperança podia assumir um valor mais neutro, no sentido de «expetativa» ou «perspetiva», conforme se pode depreender dos seguintes exemplos, um quinhentista e outro seiscentista:
(1) «E entre algũas cousas que o Catual fez, de que Vasco da Gama teve dele boa esperança pera seus negócios, foi mandar a este Monçaide que se não apartasse dele [...]» (João de Barros, Décadas da Ásia. Década Primeira, Livros I-X in Corpus do Português).
(2) «O nosso correio pode chegar de amanhã por diante, e entretanto nos tem pendentes com pouco alvoroço; porque o passado não dava premissas de alguma boa esperança, sendo perdida a de S. A. se querer coroar» (Padre António Vieira, Cartas, idem).
É de notar igualmente que a expressão «boa esperança» se fixou na toponímia, como bem ilustra o conhecidíssimo caso de «cabo da Boa Esperança», que remontará à segunda metade do século XV, conforme relata o já citado João de Barros (Décadas, I, III, citado por José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, 2003, s. v. Boa Esperança), ao referir-se ao episódio da navegação de Bartolomeu Dias até ao extremo sul do continente africano em 1488:
«Ao quall (cabo) Bartholomeu Diaz e os da sua companhia per causa dos perigos e tormentas que e...