Carlos Marinheiro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carlos Marinheiro
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Carlos Marinheiro (1941–2022). Bacharel em Jornalismo pela Escola Superior de Meios de Comunicação Social de Lisboa e ex-coordenador executivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Colaborou em vários jornais, sobretudo com textos de análise política e social, nomeadamente no Expresso, Público, Notícias da Amadora e no extinto Comércio do Funchal, influente órgão da Imprensa até ao 25 de Abril.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria que, se pudessem, me elucidassem sobre qual a expressão (mais) correcta: «como por magia» ou «como que por magia»?

Dou como exemplo a seguinte frase:

«A água foi desaparecendo do lago como por magia.»

Obrigado.

Resposta:

A expressão consagrada, e registada, por exemplo, no Dicionário Prático de Locuções e Expressões Correntes, de Emanuel de Moura Correia e Persília de Melim Teixeira, edição da Papiro Editora, é «como por magia»; significa «por artes de berliques e berloques».

No entanto, deve assinalar-se que a conjunção comparativa como pode ser seguida de que, conforme se explica no Dicionário Houaiss (s.v. como, nota sobre Gramática e Uso):

«indicando uma certa semelhança ou proximidade (com uma ação, conceito ou verdade) como é us.: seguido de que (p.ex., tais censuras c. que lhe estimularam os brios) ou ocorre antecedido do artigo indefinido (p.ex., uma c. chuva de setas caía do céu).»

Pergunta:

Qual o feminino de guepardo, também conhecido como chita?

Resposta:

Guepardo (da área da mastozoologia) é «grande felino (Acinonyx jubatus), encontrado na África e Ásia, de corpo elegante e esguio, pernas longas, cabeça pequena e pelagem amarelo-clara com pintas pretas; chita [É considerado o animal terrestre mais veloz, podendo alcançar velocidades superiores a 100 km/h]». A palavra vem do «fr[ancês] guépard (1765) [gapard, 1706], empr[és]t[imo] do it[aliano] gattopardo (início sXVII), de gatto, "gato", e pardo, "leopardo"; o lat[im] cien[tífico] gên[ero] Guepardus (1834) é o nome antigo do gên[ero] Acinonyx».

Trata-se de um substantivo (nome) epiceno, de modo que o seu feminino é guepardo-fêmea.1

[Fonte: Dicionário Eletrônico Houaiss]

1 Recomenda-se o uso de hífen neste caso, visto tratar-se de um composto formado por dois substantivos: guepardo-fêmea. Também é possível guepardo fêmeo, em que fêmeo é um adjectivo (cf. O feminino de camaleão).

Pergunta:

Bocado é uma palavra da família de boca?

Resposta:

Dado que a família de palavras abrange todas as palavras que têm um radical comum, e o termo bocado deriva «de boca + -ado», podemos dizer que se trata de «uma palavra da família de boca».

Por sua vez, a palavra boca é oriunda «do latim bucca».

Pergunta:

Em medicina e em fisioterapia utilizam-se, desde há alguns anos, equipamentos que produzem ondas de choque aproveitadas para fins terapêuticos (litotripsia...).

Como se deve escrever o nome do equipamento e da técnica, «ondas de choque», ou «ondas-de-choque»?

Obrigado.

Resposta:

O Dicionário de Termos Médicos, de Manuel Freitas e Costa, edição da Porto Editora, regista litotriptor (de lito- e do gr[ego] triptér, -êros, "triturador") e diz que se trata de «instrumento para triturar os cálculos na bexiga. Sin[ónimo de] litotritor». Este vocábulo (litotritor) vem «de lito- e do lat[im] tritor, "triturador"».

O dicionário acolhe também o termo litoclastia («de lito- e do gr[ego] klastós, "partido, quebrado", e -ia»), dizendo que se trata de «intervenção cirúrgica em que se esmagam e retiram os cálculos da bexiga através de um instrumento introduzido na uretra»; e acrescenta que tem os sinónimos liotolapaxia, litotricia e litotripsia.

Quanto a «ondas de choque», escreve-se mesmo assim: sem hífenes.

Pergunta:

Aqui existe um exame cuja denominação é «densitometria óssea». Creio que a forma correta é «densimetria». Existe base lingüística para «densitometria»? Afinal de contas, qual é o vocábulo correto? Em Portugal, que nome se emprega para tal exame médico?

Muito grato!

Resposta:

«Densitometria óssea» é a «determinação da densidade óssea pela medida da absorção dos protões emitidos por uma fonte radioactiva que atravessa o osso» [in Dicionário Médico, de L. Manuila, A. Manuila e outros, edição da Climepsi Editores, Lisboa, Portugal]. O Dicionário da Língua Portuguesa 2008, da Porto Editora, Porto, Portugal, diz que se trata de «exame que permite diagnosticar a presença (ou não) de osteoporose através da avaliação do conteúdo mineral dos ossos».

Além disso, densimetria, vocábulo da área da física, é a «determinação da densidade»; e densímetro é «areómetro que serve para avaliar a densidade dos líquidos».

A Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, da Editorial Verbo, Lisboa, Portugal, considera densímetro «aparelho utilizado para a medição rápida da densidade de líquidos», mas diz que densitómetro é «aparelho que mede a absorção da luz».

Por outro lado, o Dicionário Eletrônico Houaiss diz que densitometria, termo da área da óptica, é «medição de densidade óptica em chapas fotográficas», e densimetria, vocábulo da física, é «procedimento de medida das densidades relativas de gases, líquidos e sólidos». Acolhe também a expressão «densitometria óssea» e diz que é «exame realizado para avaliar o conteúdo mineral dos ossos, esp[ecialmente] o percentual de cálcio».

A palavra densitometria vem de «densito- + -metria», sendo o elemento de composição densito- um «antepositivo, do ing[lês] densitometer (< density + -o- + meter), "densímetro; instrumento para medir a densidade óptica; instrumento ger[almente] fotoelétrico ou visual para medir a densidad...