Carla Viana - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carla Viana
Carla Viana
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Carla Viana é licenciada em Linguística e mestranda em Linguística Computacional pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

 

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Estou interessada em saber a origem e o significado dos nomes Joana, Costa e Prino.

Agradeço antecipadamente pela ajuda.

Resposta:

Segundo o Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, o nome próprio Joana provém do latim bíblico Joanna, feminino de Jō(h)annēs (João), que por vezes surgia escrito como Johanna. De acordo com o dicionário consultado, o uso deste nome foi reforçado pelo facto de também poder funcionar como feminino de Joane, arcaísmo alternativo a João. Sobre a origem e o significado de João, consultar as respostas abaixo indicadas.

O apelido Costa é uma antiga alcunha que provém do topónimo Costa. Machado acredita que este apelido não se refere a uma determinada povoação denominada Costa, mas, sim, ao facto de a pessoa que recebeu este apelido, inicialmente usado como alcunha, provir de regiões do litoral, ou seja, «da costa». Assim, tratar-se-ia de um apelido inicialmente usado em regiões do interior. Segundo este autor, o apelido em questão pode ainda constituir uma adaptação do apelido francês Coste.

O apelido Prino deriva do latim prinu, do grego prînus, e refere-se a uma espécie de carvalho (idem).

Pergunta:

Na frase «não ver um palmo adiante do nariz», o advérbio está bem empregado? Penso que substituir por «diante» será errado.

Desde já agradeço uma resposta.

Resposta:

O Dicionário Houaiss (versão brasileira) acolhe a forma «não enxergar um palmo adiante do nariz». O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, regista tanto a expressão «não enxergar/ver um palmo adiante do nariz», como a expressão familiar «não ver um palmo à frente do nariz». As duas expressões são sinónimas e podem significar: «não ver nada, devido à escuridão»; «não compreender»; «não perceber o que é evidente»; «ser ignorante e pouco inteligente».

Respondendo à pergunta, a forma da expressão dicionarizada mostra adiante e não diante. No entanto, é possível empregar diante de, que significa o mesmo que «em frente de», «face a face» (cf. dicionário da Academia das Ciências de Lisboa). Note-se que se diz «diante dos olhos» (cf. idem), o que significa que nada obsta ao uso de «diante do nariz».

Pergunta:

Gostaria de vos perguntar qual é a origem e o significado do apelido Siopa. Já me disseram que tem origem no italiano "Schioppa", mas não consigo encontrar informação na Internet.

Muito obrigado.

Resposta:

Segundo o Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, o apelido Siopa provirá talvez do italiano cioppa ("saia").

Pergunta:

Gostaria de ser esclarecida acerca do uso do hífen nas palavras compostas à luz do novo acordo ortográfico.

Estou a pensar especificamente nos nomes da fauna e da flora.

Muito agradecida uma vez mais.

Resposta:

Segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990, Base XV), «emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjectival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio», podendo o primeiro elemento ser reduzido: arco-íris, decreto-lei, médico-cirurgião, rainha-cláudia, guarda-noturno, sul-africano, afro-asiático, primeiro-sargento, guarda-chuva, etc.

No entanto, existem determinados compostos em relação aos quais se perdeu a noção de composição, e estes casos grafam-se aglutinadamente, por exemplo: girassol, madressilva, pontapé, entre outros.

 

Em relação aos compostos que designam espécies botânicas e zoológicas, este acordo acrescenta ainda que se utiliza o hífen quer estejam ou não ligados por preposição ou qualquer outro elemento, por exemplo: abóbora-menina, feijão-verde, ervilha-de-cheiro, fava-de-santo-inácio, bem-me-quer, cobra-capelo, formiga-branca, lesma-de-conchinha, bem-te-vi, etc. 

 

N.E. – Sobre os critérios de hifenização depois do Acordo Ortográfico de 1990, acompanhe-se a explicação do...

Pergunta:

Quando posso usar o verbo ter e/ou o verbo haver? Ex.: «Tem um livro na sala.» — «Há um livro na sala.» «Tem um elefante na varanda.» — «Há um elefante na varanda.»

O uso de um ou outro é indiscriminado?

Resposta:

Os verbos ter e haver com o significado de «existir» têm uso diferente em português europeu (PE) e em português brasileiro (PB):

«Tem um livro na sala» (PB)/«Há um livro na sala» (PE).

«No baile tinha muitos homens bonitos» (PB)/«No baile havia muitos homens bonitos» (PE).

«Tem um elefante na sala» (PB)/«Há um elefante na sala» (PE).

Os exemplos acima indicam tendências, porque em PB é também possível usar o verbo haver nesses contextos. Em PE, o uso de ter = «existir» é considerado um brasileirismo.

Além da diferença de utilização referida acima, em construções que exprimam distância temporal, o português do Brasil (PB) utiliza os verbos fazer e ter, enquanto o português europeu (PE) usa o verbo haver:

«Ele está em Lisboa faz dois anos» (PB)/«Ele está em Lisboa há dois anos» (PE).

«Ele licenciou-se tem três anos» (PB)/«Ele licenciou-se há três anos» (PE).