Carla Marques - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Carla Marques
Carla Marques
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Doutorada em Língua Portuguesa (com uma dissertação na área do  estudo do texto argumentativo oral); investigadora do CELGA-ILTEC (grupo de trabalho "Discurso Académico e Práticas Discursivas"); autora de manuais escolares e de gramáticas escolares; formadora de professores; professora do ensino básico e secundário. Consultora permanente do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacada para o efeito pelo Ministério da Educação português.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Vi um vídeo promocional onde eram utilizadas aspas para uma citação totalmente escrita em maiúsculas.

Como «AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER».

Pareceu-me, intuitivamente, mal escrito mas pergunto se estará efetivamente incorreto, ou será apenas uma questão de estilo?

Muito obrigada.

Resposta:

Tudo depende do contexto em que as maiúsculas são usadas.

Num texto comum que se paute pelas regras da escrita normativa, as maiúsculas são usadas apenas em início de frase ou em palavras cuja grafia com maiúscula está pré-determinada (cf. o disposto no Acordo Ortográfico de 90). Neste âmbito, as maiúsculas integrais estão previstas, por exemplo, para a grafia das siglas (como ONU).

No entanto, há contextos específicos que poderão justificar o recurso às maiúsculas, o que acontece, por exemplo, com os títulos de obras literárias (OS LUSÍADAS). Na publicidade, os usos expressivos justificam também muitas vezes o desrespeito da norma. Tal fica claro no uso expressivo da pontuação.

O uso das maiúsculas é, no texto publicitário, um recurso muito frequente, pois permite destacar uma ideia ou sublinhar a ação que se pretende desencadear no público-alvo. Nesse contexto, é lícito o uso de maiúsculas no verso do soneto camoniano. A apresentação das aspas é também justificada, uma vez que estas assinalam texto citado.

Por fim, recorde-se que, em determinados ambientes, o uso de maiúsculas integrais pode ter significados específicos. Na Internet, por exemplo, num e-mail, comentário ou num blogue, o recurso às maiúsculas é entendido como uma forma de sinalizar o ato de gritar ou de demonstrar que se está aborrecido com algo, pelo que será de evitar se as intenções não forem estas.

Disponha sempre!

Pergunta:

Qual das opções abaixo está gramaticalmente correta? Observando-se a conjugação dos verbos olhar e estancar:

1. «Até quando cultivaríamos as chagas do passado, mantendo-as abertas e sangrentas? Apontando dedos e ferindo outros feridos, em vez de pararmos por um instante para nos olharmos e estancarmos as nossas próprias chagas.»

Ou

2. «Até quando cultivaríamos as chagas do passado, mantendo-as abertas e sangrentas? Apontando dedos e ferindo outros feridos, em vez de pararmos por um instante para nos olhar e estancar as nossas próprias chagas.»

Há alguma regra pela qual me possa guiar para este tipo de dúvida?

Muito obrigada.

Resposta:

As duas opções são aceitáveis, embora a opção pelo infinitivo flexionado possa ser preferível por razões estéticas.

A dúvida apresentada convoca a questão do emprego do infinitivo pessoal ou flexionado face ao do infinitivo impessoal ou não flexionado. Neste âmbito, não poderemos considerar que existem regras inequívocas, mas antes tendências, tal como advertem Cunha e Cintra1.

Assim, de uma forma geral, poderemos referir que o uso do infinitivo pessoal está associado ao facto de a oração infinitiva ter um sujeito próprio, diferente do sujeito da oração subordinante. Este sujeito poderá estar expresso (1) ou ser um pronome nulo (2):

(1) «O motorista parou para os turistas verem a paisagem.»

(2) «O motorista parou para [-]2 verem a paisagem.»

O infinito impessoal usa-se quando o sujeito da oração infinitiva é o mesmo do da oração subordinante, pelo que o verbo não flexiona em pessoa e número:

(3) «O motorista decidiu [ele] ver a paisagem.»

No caso apresentado pela consulente, o segmento de frase em questão inclui uma oração final infinita, que se sublinha:

(4) «[…] pararmos por um instante para nos olhar(mos) e estancar(mos) as nossas próprias chagas»

Nestas situações, tal como acontece na regra geral, quando o sujeito da oração subordinada é diferente do sujeito da oração subordinante, usa-se o infinitivo flexionado, o que se verifica em (5) onde se destacam os dois sujeitos:

(5) «O jovem parou para [nós] nos olharmos e estancarmos as nossas próprias chagas.»

Quando os sujeitos das duas orações são iguais, pode optar-se pel...

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