Pergunta:
Quando é que se deve usar o artigo indefinido e quando é que se o deve[*] omitir?
Nalgumas situações os substantivos soam melhor com artigo e noutras soam melhor sem artigo.
Por exemplo, as frases «tens namorada?» e «sou professor» soam melhor do que as frases «tens uma namorada?» e «sou um professor», mas as frases «comprei uma camisola» e «ontem falei com uns turistas espanhóis» soam melhor do que as frases «comprei camisola» e «ontem falei com turistas espanhóis».
[*N.E. – Mantém-se a sequência «se o», embora a sua gramaticalidade seja controversa.]
Resposta:
Em termos gerais, o uso do artigo indefinido está relacionado com a intenção de expressar um valor [± específico].
Assim, se o falante pretender, por um lado, veicular uma leitura com um valor [+específico], «usa o sintagma nominal indefinido para referir uma entidade particular do universo do discurso (ou um grupo particular de entidades), indicando, no entanto, ao ouvinte que a identificação dessa entidade ou grupo não é importante no contexto discursivo – em certos casos (mas não em todos), porque assume que o ouvinte, de qualquer modo, não tem informação suficiente para fazer essa identificação»1, como se verifica nas frases seguintes:
(1) «Li um livro de Saramago.»
(2) «Comprei uma camisola desportiva.»
(3) «Falei com um turista espanhol.»
Por outro lado, quando o artigo indefinido é usado com um valor [-específico], «o falante não tem qualquer referente particular em mente (e por isso se considera que este uso não é referencial)»2. Este valor fica bem patente em usos como:
(4) «Vai ler um livro.»
(5) «Ele falou com um turista.»
(6) «Ele comprou uma camisola.»
Em português, existe também a possibilidade de fazer uso de sintagmas nominais reduzidos, ou seja, de grupos nominais sem determinante3, como se observa no constituinte destacada em (7):
(7) «Lisboa é capital.»
O uso ou não do artigo indefinido está relacionado com razões pragmáticas, isto é, depende das intenções do falante e da interpretação dada aos enunciados.
Assim, embora não conheçamos um estudo que aprofunde a...