Pergunta:
Nas gramáticas a que estou a recorrer, são dados exemplos de conjunções coordenativas correlativas como «nem... nem», «tanto... como», «quer... quer», etc. No entanto, não encontro exemplos de conjunções subordinativas correlativas. A minha dúvida é se existem.
Lembrei-me dos seguintes casos: «tanto... quanto» e «tão... que». Serão exemplos de conjunções subordinativas correlativas, ou só se considera conjunção o segundo elemento e o primeiro não faz par?
Outra questão, uma das gramáticas, falando das orações coordenadas, divide os elementos que as introduzem em conjunções coordenativas e em advérbios conectivos, classificando expressões como «no entanto», «por isso», «por consequência», etc. como advérbios conectivos e não como locuções conjuncionais coordenativas. Porém, a mesma gramática, ao falar das orações subordinadas, fala tanto em conjunções subordinativas como em locuções conjuncionais subordinativas, dando o exemplo de «assim como», «desde que», «não obstante», etc.
Não percebo porque é que para as coordenativas não se fala em locuções, mas sim em advérbios conectivos; e porque é que, para as subordinadas, se fala em locuções e não em advérbios conectivos. Assumindo que isto está correto, quer isto dizer que não existem locuções conjuncionais coordenativas, sendo todas advérbios conectivos?
Muito obrigado e parabéns pelo vosso notável serviço.
Resposta:
Começaremos por esclarecer a razão pela qual palavras como «tão… que» , que surgem em oração subordinadas consecutivas, não são consideradas uma locução. Uma locução é um conceito gramatical que descreve um conjunto de duas ou mais palavas que desempenham uma função gramatical única.
Ora, tal não é o caso de estruturas como «tão…que». Nesta situação, estamos perante um operador consecutivo que, na oração principal assinala o grau e pede uma oração subordinada iniciada pela conjunção que, predicando, deste modo, sobre uma consequência associada ao grau. Por esta razão poderemos usar a frase (1), na qual se predica apenas sobre o grau, e a frase (2), na qual se predica sobre uma consequência associada ao grau:
(1) «Ele é tão forte.»
(2) «Ele é tão forte que transportou tudo sozinho.»
Este comportamento é diferente do que se identifica em locuções como «quer… quer» ou «não só… mas também».
Em segundo lugar, locuções como «no entanto», «por isso», «por consequência», entre outras, não são consideradas pelas abordagens gramaticais mais recentes como locuções coordenativas porque a análise do seu comportamento na frase evidenciou que estas têm um comportamento distinto das conjunções coordenativas. As conjunções, segundo Mateus1, caracterizam-se por ocupar a posição inicial do membro coordenado; não poderem deslocar-se para o interior do termo coordenado; por coordenarem constituintes frásicos e não frásicos. Já os advérbios conectivos, como, porém, todavia e contudo, não têm obrigatoriedade de colocação em início do membro coordenado (3), podendo mover-se no seu interior e podem coocorrer com as conjunções (4):
(3) «O João chegou; não telefonou, todavia, a ninguém»
(4) «O João chegou, mas, todavia, não telefonou a ninguém.»
Deste modo,...