Pergunta:
A minha dúvida prende-se com a subclasse dos verbos, considerando a ativa e a passiva.
A propósito da frase «Quando a pergunta me foi feita» (não estando expresso o complemento agente da passiva), encontrei uma ficha com uma questão para indicar a subclasse do verbo fazer, dando como solução transitivo indireto. Ora, esta situação levou-me a considerar o porquê de se admitir que o complexo verbal passivo peça complemento indireto (me) e se ignore o facto de o sujeito da frase passiva constituir um complemento direto na ativa. Ou seja, na ativa o verbo fazer é transitivo direto e indireto.
Passando para a passiva, essa classificação mantém-se (uma vez que a ação é a mesma) ou altera-se?
Mas, se é diferente, por que motivo consideraram que o complexo verbal «foi feita» pede complemento indireto (comum à ativa e passiva – «foi feita a quem?») e não se considera que selecione também complemento agente da passiva («foi feita por quem?»), não existindo nas subclasses do verbo principal uma para este tipo de complemento...(o transitivo indireto seleciona complemento indireto ou oblíquo, mas não encontrei em nenhuma gramática o complemento agente da passiva).
Faz-me confusão considerar o que é óbvio (o me que se mantém nas duas formas) e ignorar o que fica por esclarecer...
Reconhecendo que esta seria daquelas perguntas que não se fazem, a estar feita, surgiu-me a dúvida e, independentemente da utilização da questão da ficha, gostaria de a esclarecer.
Resposta:
A natureza de um verbo mantém-se na forma ativa e na forma passiva.
Antes de mais, recordemos que só os verbos transitivos podem surgir numa construção passiva1. Estes verbos mantêm a sua natureza na forma passiva, na qual se verifica uma situação particular em que o seu argumento interno (o complemento direto) passa a desempenhar a função de sujeito, o que significa que as orações passivas são um caso particular de orações sem complemento direto.
A construção em questão, que aqui transformamos em frase simples para facilitar a análise, apresenta um verbo transitivo direto e indireto na sua forma ativa:
(1) «Ele fez-me a pergunta.»
Quando se transforma a frase ativa em passiva, o constituinte com função de complemento direto desloca-se para a função de sujeito, mas o verbo fazer mantém a sua natureza, continuando a ter um argumento interno, que ocupa outra posição na frase, ficando o seu espaço de complemento direto não preenchido.
Por estas razões, consideramos que o verbo fazer é um verbo transitivo direto e indireto.
Disponha sempre!