Pergunta:
Sendo aspirante a tradutor-intérprete, deparo-me, por vezes, com dúvidas relativas ao uso correto de certas expressões (idiomáticas, populares, entre outras).
Neste sentido, venho pelo presente perguntar se é legítimo o uso da expressão «fora de órbita» no seguinte contexto, com o intuito de dar à mesma uma conotação negativa e com o intuito de esta significar que algo é anormal e negativamente muito elevado:
«O ano passado, em algumas águas, as condições revelaram ser de um calor tão inusitado que os níveis de stress térmico estavam ao pé da letra fora de órbita para o sistema de alerta da NOAA.»
Muito obrigado pela atenção!
Resposta:
A construção proposta parece um pouco “barroca” para o pretendido. Antes de mais, será excessivo o uso de duas construções de valor estilístico seguidas («ao pé da letra» e «fora de órbita») num texto de objetivo não literário.
Para além disso, o valor da construção «fora de órbita», no contexto em que está a ser usada, não me parece claro, pelo que não está assegurado que signifique o que pretende. Não esqueçamos que o uso mais comum de «fora de órbita» ativa o sentido de «que está ou é mentalmente perturbado»1, o que poderá introduzir ruído na interpretação do enunciado.
Proponho, por estas razões, que faça uso de uma construção mais simples e transparente, como:
(1) «[…] as condições revelaram ser de um calor tão inusitado que os níveis de stress térmico eram excessivos para o sistema de alerta da NOAA.»
Disponha sempre!
1. Dicionário da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa