Pergunta:
Nas frases
«A Joana mora com a Maria.»
«Ambas moram em Leiria.»
«O António vai morar para Lisboa.»
As expressões «com a Maria», «em Leiria» e «para Lisboa» desempenham todas a função sintática de complemento oblíquo?
Surgiu-me esta "dúvida tola" quando tentava aplicar várias preposições a este verbo intransitivo e, como não encontrei nenhuma gramática onde constem todas as preposições que podem ser usadas com alguns destes verbos (como no caso de «ir a, com, contra, de, para, por») senti necessidade de recorrer aos vossos prestimosos serviços.
Grata.
Resposta:
Em todas as frases os constituintes introduzidos por preposição desempenham a função de complemento oblíquo, embora sejam complementos de verbos distintos.
Assim, na frase transcrita em (1), o verbo morar é transitivo indireto pedindo um complemento de lugar onde, que é preenchido pelo grupo preposicional «em Leiria»:
(1) «Ambas moram em Leiria.»
O constituinte sublinhado desempenha, portanto, a função de complemento oblíquo.
O verbo morar também pode ser usado com o sentido de «compartilhar moradia; viver com» (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa). Com esse sentido, o verbo constrói-se com a preposição com, como acontece em (2):
(2) «A Joana mora com a Maria.»
Nesta frase, o constituinte «com a Maria» desempenha a função de complemento oblíquo.
Na frase (3), o grupo preposicional «para Lisboa» não é um complemento do verbo morar, mas sim do verbo ir, o que fica patente no facto de a eliminação do verbo ir em (4) produzir uma frase distinta de (3). A frase (5) já será equivalente a (3) e mostra que o constituinte «para Lisboa» é argumento do verbo ir1:
(3) «O António vai morar para Lisboa.»
(4) «O António mora para Lisboa.»
(5) «O António vai para Lisboa [para morar lá].»
Assim sendo, em (3), o grupo preposicional «para Lisboa» desempenha a função de complemento oblíquo do verbo ir.
Disponha sempre!