Aura Figueira - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Aura Figueira
Aura Figueira
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Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Portugueses e Franceses, pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, com uma pós-graduação em Ciências da Documentação e da Informação, variante de Biblioteconomia. É professora de português dos ensinos básico e secundário. 

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Pode o complemento indireto ser precedido pela preposição para?

Na frase «Ela trouxe os bolos para as crianças», a expressão «para as crianças» pode ser complemento indireto ou é modificador?

Obrigada.

Resposta:

   Geralmente, o complemento indireto é introduzido pela preposição a, só muito raramente pela preposição para. Para o comprovar, basta que se introduza na frase um novo complemento indireto regido pela preposição a:

      «Ela trouxe os bolos à mãe para as crianças.»

   Note-se que se «à mãe» e «para as crianças» exercessem a mesma função de complemento indireto, deveriam aparecer coordenados pela conjunção «e», como ocorre com todos os termos de igual valor gramatical. 

     Também só é possível a substituição da expressão «à mãe» pelo pronome pessoal lhe/lhes:

     «Ela trouxe-lhe os bolos para as crianças.»

    *«Ela trouxe-lhe os bolos à mãe.» 

    Assim, a expressão «para as crianças» é um modificador do grupo verbal.

 

...

Pergunta:

Gostaria que me confirmassem a correta divisão e classificação das orações:

«Desconhecias que ele fumava ou já desconfiavas?»

«Desconhecias» - oração subordinante

«Que ele fumava» - oração subordinada substantiva completiva

«Ou já desconfiavas» - oração coordenada disjuntiva.

Obrigada.

Resposta:

A divisão e classificação das orações apresentada está correta.

Importa apenas esclarecer que a relação de coordenação se estabelece entre a estrutura composta pelas duas primeiras orações e a última, na medida em que a oração subordinada substantiva completiva desempenha a função sintática de complemento direto relativamente à oração subordinante, formando com esta um todo e é este todo que se articula por coordenação com a última oração, através da conjunção coordenativa disjuntiva «ou». 

 

Fontes:

Evanildo Bechara, Moderna Gramática Portuguesa, Nova Fronteira, 2009

Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Edições João Sá da Costa, Lisboa

 Gramática do Português, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisb...

Pergunta:

Venho colocar uma dúvida referente à classificação, quanto à acentuação, da palavra silêncio.

1. Trata-se de uma palavra esdrúxula/proparoxítona ou grave/paroxítona? A dúvida prende-se com o ditongo crescente (ou será hiato?) "io", em posição pós-tónica.

2. As proparoxítonas aparentes, mencionadas no Acordo Ortográfico, são consideradas esdrúxulas? Ainda não percebi este conceito de «proparoxítonas aparentes». Não sei se é o caso desta palavra, daí estar a antecipar esta questão.

Obrigada por todos os esclarecimentos que possam prestar.

Resposta:

     Para clarificar a questão da classificação, quanto à acentuação, da palavra silêncio, transcrevemos do texto do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), Base XI: Da acentuação gráfica das palavras proparoxítonas, o seguinte:

      «Levam acento circunflexo:

     (...) as chamadas palavras proparoxítonas aparentes, isto é, que apresentam vogais fechadas na sílaba tónica/tônica, e terminam por sequências vocálicas pós-tónicas/pós-tônicas praticamente consideradas como ditongos crescentes: amêndoa, argênteo, côdea, Islândia, Mântua, serôdio.»

   Assim, silêncio poderia ser considerada uma palavra paroxítona (grave), porque a sequência final, pós-tónica (-io) é praticamente um 

Pergunta:

Qual a diferença entre simulacro e simulação e em que situações devemos usar uma e não a outra palavra? Lendo o dicionário parecem quase sinónimos mas, se existem duas palavras, deve haver alguma distinção.

Resposta:

Nos registos dicionarísticos, simulacro é definido, entre outros significados, como cópia, imagem, aparência sem realidade, ação simulada, simulação;  e simulação define-se como fingimento, disfarce, hipocrisia, simulacro. 

Simulacro e simulação são, pois, quase sinónimos, sendo mesmo apresentados como tal. Porém, também  se pode estabelecer a diferença, sobretudo enquanto falantes e leitores de português.

A palavra simulação utiliza-se sobretudo numa aceção de fingimento, de disfarce, engano, enquanto se pode usar simulacro para referir ações simuladas, cópias.

No entanto, poderá escolher-se um ou outro vocábulo, como aprouver, visto que, para além de serem referidos como sinónimos, a diferença de sentido apresentada pelos dicionários é muito ténue.

 

Fontes:

Grande Dicionário da Língua Portuguesa. Porto: Porto Editora

Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa.

Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea. João Malaca Caste...

Pergunta:

Podemos apropriar-nos do termo alimento para congregar todo o tipo de substâncias comestíveis sólidas e líquidas? Ou seja, até que ponto a correção da língua portuguesa nos permite utilizar a palavra alimento para designar, por exemplo, água? Aquando da clarificação de ambos os conceitos no dicionário online Priberam, apercebi-me de que alimento corresponde àquilo «que serve para conservar a vida aos animais e às plantas» e água ao «líquido natural [...] indispensável para a sobrevivência da maior parte dos seres vivos», pelo que, presumo eu, se poderá afirmar que «a água é um alimento», sem que se incorra em erros de semântica.

Grato desde já pela resposta.

Resposta:

De um modo geral, a água constitui um elemento essencial à vida, sendo mesmo a principal substância responsável pelo funcionamento do organismo da maioria dos seres vivos, como alimento e como nutriente.

Assim, dado que as várias definições de alimento, nos dicionários consultados, indicam tratar-se de tudo o que os seres vivos ingerem para poderem subsistir, ou seja, viver, será semântica e cientificamente correto considerar a água um alimento.

 

 Fontes:

Grande Dicionário da Língua Portuguesa. coordenação de José Pedro Machado, 1981

Grande Dicionário da Língua Portuguesa. Porto: Porto Editora, 2004

Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa.

Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea. João Malaca Casteleiro, coordenador (Academia das Ciências de Lisboa). Lisboa: Academia das Ciências de Li...