A. Tavares Louro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
A. Tavares Louro
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Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas — Estudos Portugueses e Franceses pela Faculdade de Letras de Lisboa. Professor de Português.

 
Textos publicados pelo autor

Quem não está não está habituado a falar na televisão comete por vezes aquele pecado de linguagem que são as cacofonias, como se ouviu ao presidente do Sporting, na entrevista concedida à SIC Notícias [no dia 14 de Janeiro p.p.]. Falando num ritmo excessivamente rápido, engoliu sílabas atrás de sílabas, num tropel de sons desagradáveis, grosseiros e, até, ri...

Pergunta:

Considere a frase do Padre António Vieira: «Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os Pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhe sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal».

Como dividir e classificar as orações?

Resposta:

Começaremos por transpor alguns elementos para que estejamos mais próximos da ordem directa do discurso.

«[falando com os Pregadores] Cristo, Senhor nosso, diz [vós] sois o sal da terra; e chama-lhe sal da terra porque quer que façam na terra o que faz o sal.»
falando com os Pregadores – oração subordinada adverbial temporal e gerundiva.
Cristo, Senhor nosso, diz aos Pregadores – oração subordinante ou principal.
[vós] sois o sal da terra – oração subordinada integrante porque contém o complemento directo da oração anterior.

Se esta oração estivesse no discurso indirecto, seria antecedida de conjunção. Exemplo: «Cristo disse aos Pregadores que eles eram o sal da terra.» 

Como o autor era um mestre do estilo, preferiu o discurso indirecto livre, que permite a conciliação do discurso directo com o discurso indirecto.

e chama-lhe(s) sal da terra – oração coordenada à subordinante ou principal. 
porque quer... – oração subordinada causal da coordenada 
que façam na terra o (aquilo) – oração subordinada integrante ou completiva da anterior. 
que faz o sal – oração subordinada adjectiva relativa, visto que o pronome que se refere ao pronome demonstrativo invariável o com função de complemento directo, na penúltima oração e substituído pelo 

Pergunta:

Gostaria de ver explicado o termo “tombamento” usado em português do Brasil para um conjunto de regras tendentes a proteger património.
Segundo pesquisas efectuadas, o termo “tombo” serviu em tempos para designar o local e o registo de documentos guardados (daí Torre do Tombo), sem qualquer carácter jurídico ou legal; era um registo de acervo e não de normas; e, segundo creio, o tem sido até agora embora a entidade responsável por este acervo tenha passado a chamar-se Instituto, incluindo o termo Torre do Tombo só por razões históricas.
Eu sei que o verbo “tombar” tem dois significados: «inclinar», ou «cair»; «registar», ou «catalogar»; este último parece que o deixamos "tombar".

Resposta:

A palavra tombo equivale a tomo, que significa: «volume», «conjunto de páginas» ou «conjunto de registos».
Tombar continua a significar «inventariar», «arrolar», «registar» e «catalogar».
Tombamento é, portanto, um substantivo relacionado com tombar.
O verbo tombar, com o significado de «cair», está relacionado com o ruído que se ouve quando cai alguma pessoa ou algum objecto. Pertence a uma raiz que tem origem onomatopaica.

 

N. E. (16/12/2020) – O consultor parece sugerir que tombo, «arquivo, registo», e tomo, «volume», são formas divergentes com origem no mesmo étimo. Trata-se da proposta de José Pedro Machado, que, no seu Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (Livros Horizonte, 1987), apresenta tombo, «arquivo», e tomo, «volume», como palavras que evoluíram do latim tomu-, «pedaço, bocado; livro, fascículo», por sua vez adaptação do grego tómos, «pedaço cortado, parte, porção», «pedaço de papiro ou pergaminho» (por extensão semântica), donde «tomo, volume»). Esta etimologia não é consensual, e, na verdade, no Dicionário Houaiss da Língua  Portuguesa (1.ª edição, 2001), em nota etimológica associada à entrada tombo, «arquivo», considera-se que a palavra tem origem controversa:

«[...] segundo J[osé Pdro] M[achado] [op. cit.], "do mesmo vocábulo latino [tomus, i 'pedaço; tomo, volume; obra'] veio-nos, por outra via, tombo, arquivo" [...]; [

Pergunta:

Qual é a formação da palavra "solstício", derivada ou primitiva ou composta?

Resposta:

Solstício tem origem no vocábulo latino ‘solstitium’.
Esta palavra é composta do antepositivo ‘sol-‘ e do elemento ‘stitium’, relacionando com o verbo ‘stare’.
Por este motivo, solstício significa: «dia em que o Sol está mais tempo acima da linha do horizonte».
Posteriormente, solstício do Inverno passou a designar o dia em que o Sol está menos tempo acima da linha do horizonte.

Pergunta:

Gostaria de saber o aumentativo de fogo.

Resposta:

Segundo as regras da formação dos aumentativos, fogão será o aumentativo de fogo.

Como a palavra fogão designa o local ou o aparelho onde cozinhamos, os falantes da língua portuguesa evitam o uso de fogão como aumentativo de fogo.

Assim, poupam uma possível ambiguidade.