A. Tavares Louro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
A. Tavares Louro
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Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas — Estudos Portugueses e Franceses pela Faculdade de Letras de Lisboa. Professor de Português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Venho mais uma vez pedir a vossa ajuda e os vossos esclarecimentos.

Qual é a origem e o significado de «D. Fuas, o Barbatanas» em «Chamava-lhe [Maria Monforte a Afonso da Maia] o D. Fuas, o Barbatanas» (Os Maias, cap. II)?

Resposta:

A referência a D. Fuas está relacionada com a lenda de Nossa Senhora da Nazaré, que salvou da morte D. Fuas Roupinho, almirante de D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal.

D. Fuas Roupinho caçava na região da Nazaré quando viu uma corça correndo. D. Fuas perseguiu a corça com tal entusiasmo, que esteve em risco de cair da falésia do Sítio da Nazaré. Só não caiu porque Nossa Senhora impediu que ele caísse no abismo.

Quando alguém chamava D. Fuas a Afonso da Maia, estava a considerá-lo como cavaleiro dos tempos passados.

"Barbatanas" está por barbaçana ou barbaças, que podem significar «homem muito idoso». É, portanto, mais uma forma jocosa de falar de Afonso da Maia.

Pergunta:

Gostaria de saber qual a origem da expressão copo-d´água para designar as refeições servidas em casamentos e outras cerimónias.

Resposta:

Ao que parece, palavra copo-d´água começou por designar uma «pequena refeição, de doces e bebidas generosas, que se oferece a quem se deseja obsequiar, em certas ocasiões festivas» ou «reunião onde se oferecem bebidas e doces» (Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado). Em Portugal, o termo especializou-se, aplicando-se sobretudo aos banquetes de casamento, embora o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa também o estenda a baptizados e actos mais ou menos solenes.

Em dicionários e obras de referência, não encontrámos explicação para a evolução semântica da expressão copo-d´água em português europeu. É, contudo, plausível que se tenha desenvolvido a partir de uma figura de estilo denominada eufemismo. Se nos colocarmos no lugar das famílias que fazem os convites, verificamos que essas famílias assumem um grande encargo designado apenas por copo-d´água. Assim, conseguem disfarçar as ideias preocupantes com uma expressão suavizante.

Pergunta:

Preciso fazer um trabalho para uma empresa de esquadrias e minha dúvida é: janela "maxi-ar" ou "maxiar" e janelas "maxi-ares" ou "maxiares"?

Se puderem me ajudar, agradeço muito.

Resposta:

As palavras formadas com o elemento maxi- não necessitam de hífen com um segundo elemento iniciado pela letra a. Devemos, portanto, usar a forma maxiar, pois é a mais prática, visto que não oferece qualquer dificuldade de leitura. O hífen deve ser usado principalmente quando traz vantagens na leitura.

Pergunta:

Qual o significado da última estrofe do poema Que fizeste das palavras?, de Eugénio de Andrade? «Que lhes dirás, quando/te perguntarem pelas minusculas/sementes que te confiaram?»

Obrigado.

Resposta:

Poema de Eugénio de Andrade:

Que fizeste das palavras?
Que contas darás dessas vogais?
de um azul tão apaziguado?
E das consoantes, que lhes dirás?
ardendo entre o fulgor
das laranjas e do sol dos cavalos?
Que lhes dirás, quando
te perguntarem pelas minúsculas
sementes que te confiaram?

Este poema está relacionado com a parábola dos talentos e com a parábola das sementes.

«Um homem (rico) chamou os seus servos e confiou-lhes os seus bens. A um, entregou cinco talentos; a outro, dois, e a outro, um, a cada um conforme a sua capacidade... Aquele que recebeu cinco ganhou outros cinco. Aquele que recebeu dois ganhou outros dois... O terceiro devolveu apenas o talento que recebera... E o senhor disse que ele era um mau servo e preguiçoso.»

«O reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Quer esteja a dormir, quer se levante... a semente germina e cresce...»

Assim podemos comparar as palavras aos talentos e às sementes. A fala é um valioso talento dos seres humanos que pode render como as sementes que se desenvolvem, que se multiplicam e que frutificam e que nos alimentam.

Pergunta:

Qual é o significado da expressão «O advogado vai com muita sede ao pote»?

Resposta:

Não encontrei a frase «ir com sede ao pote» na lista dos ditos populares.

Interpretando-a como uma metáfora, parece-me que «o advogado deseja participar, com entusiasmo, numa questão jurídica ao seu alcance».