A. Tavares Louro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
A. Tavares Louro
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Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas — Estudos Portugueses e Franceses pela Faculdade de Letras de Lisboa. Professor de Português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Gostaria de saber que verbo será mais correcto de usar.

«Denunciar o contrato», ou «renunciar o contrato»?

Grato pela resposta.

Resposta:

Denunciar um contrato consiste em declarar o desejo de terminar um contrato celebrado com outro ou outros intervenientes.

Renunciar é um verbo que se aplica em relação a um acto em que um ou mais indivíduos declaram que não desejam obter vantagens de uma situação ou de uma decisão em que são beneficiários. Por exemplo: «Eles renunciaram à herança...»

Pergunta:

Recentemente, numa tasca de Alfama, ouvi uma conversa em que se falava algo parecido com português. Quem estava comigo disse-se ser um "dialecto" antigo da gatunagem de rua, com o nome "oni'". Uma espécie de código, para não serem entendidos por "estranhos" talvez não seja correcto chamar dialecto. Existe este "oni"?

Obrigado.

Resposta:

Uma das particularidades dos códigos secretos da gatunagem é a sua instabilidade. Se não houvesse mudança constante, os outros falantes passariam a compreender o conteúdo das mensagens, que deixariam de ser secretas. A evolução constante é absolutamente necessária.

A estas formas de linguagem usadas por certos grupos chamamos gírias. Em cada forma de gíria, as palavras podem adquirir significados especiais para os utilizadores desses códigos secretos.

O "oni" será, possivelmente, uma gíria usada por um grupo restrito de falantes, com vocabulário usado apenas durante algum tempo, visto que a mudança constante é a melhor regra de segurança.

Dialecto significa variedade local ou regional de uma língua apresentando particularidades fonéticas e vocabulares, muitas vezes, com arcaísmos, pois os dialectos são, normalmente, muito conservadores.

Pergunta:

Qual é a diferença entre os verbos vir e chegar e qual é a diferença entre as perífrases «vir a» + infinitivo e «chegar a» + infinitivo?

Obrigada.

Resposta:

O verbo vir pressupõe um ponto de partida, um percurso e um ponto de chegada onde se encontra o enunciador da frase.

O verbo chegar corresponde à acção de alcançar um ponto terminal de um percurso.

O verbo vir seguido da preposição a e de verbo no infinitivo dá lugar a uma forma perifrástica porque prolonga a explicação, podendo dar um maior dinamismo à acção durante um percurso. Exemplo: «Eles vêm a cantar.»

O verbo chegar seguido da preposição a e de verbo no infinitivo é também uma forma perifrástica, que dá, normalmente, especial relevo ao final da acção. Exemplo: «Ele pouco sabia, mas tanto estudou, que até chegou a passar no exame.»

Pergunta:

Gostaria de saber se existe o aumentativo e o diminutivo da palavra real.

Resposta:

Real é um adjetivo quando significa «que existe na verdade».

Real é também adjetivo quando significa «relativo ao rei ou à realeza».

Como adjetivo, possui os graus normal, comparativo e superlativo.

Os graus aumentativo e diminutivo dizem respeito normalmente aos substantivos, só raramente se aplica aos adjetivos por infuência dos substantivos.

Real, como substantivo, significa moeda usada em Portugal e no Brasil. Dado que as diferentes moedas de real têm dimensões normalizadas, não se usam frequentemente o aumentativo nem o diminutivo, visto que existem designações numismáticas específicas.

Pontualmente, alguém poderá dizer ou poderia ter dito um realzinho ou um realzito, visto que os diminutivos são muito usados a nível da linguagem familiar. Já o aumentativo só raramente seria utilizado.

Pergunta:

Em Romãs, concelho de Sátão [Portugal], existe o monte da Paradaia. Gostava de saber a origem e o significado de Paradaia. A cerca de 20 km de distância existe outro monte, o monte da Pardaia. Terão uma origem comum?

Resposta:

O presidente da Junta da Freguesia de Romãs, no concelho de Sátão, declarou que desconhece a origem do nome do monte da Paradaia. Neste local funciona uma extracção de granito. Não há residentes neste local. Também desconhece a existência do monte da Pardaia.

No blogue Toponíma: Gentes & Lugares, às 18 horas do dia 23 de Abril de 2009, foi publicado o seguinte artigo acerca do topónimo Paradaia, assinado por Manuel Carvalho:

«Pede-me um leitor deste blogue para estudar a possível origem do topónimo Paradaia, que identifica um monte na freguesia de Romãs, concelho de Sátão. O topónimo em questão é ignorado pelos nossos documentos oficiais, que, para o mesmo acidente geográfico, registam os nomes de monte do Barrocal ou monte de Nossa Senhora do Barrocal. Acrescenta o nosso consulente que, neste lugar, estão referenciados "uma necrópole, um castro e uma igreja moçárabe". 

Uma rápida pesquisa permitiu-me acrescentar algo mais a estas informações, como seja o fa{#c|}to de ali se realizar, no dia 2 de Fevereiro de cada ano, a romaria de Nossa Senhora do Barrocal, em honra de Nossa Senhora das Candeias, orago da capela ali existente, a que o povo chama Capela das Candeias ou da Fevereirinha.

 

Esta romaria corresponderá, quase pela certa, considerando as particularidades do lugar e os respectivos achados, à cristianização do festival celta do primeiro dia de Fevereiro, conhecido por Imbolc "Purificação" ou Dia da Senhora, que honrava a deusa Brigitt, "filha do deus Dagda, a deusa tri...