A. Tavares Louro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
A. Tavares Louro
A. Tavares Louro
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Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas — Estudos Portugueses e Franceses pela Faculdade de Letras de Lisboa. Professor de Português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Nos Dez Mandamentos, há verbos no futuro do presente do indicativo com valor imperativo. Como podemos entender isso? Por que «Não matarás» em vez de «Não mate»?

Grato.

Resposta:

Na evolução da língua latina para a língua portuguesa, algumas formas latinas não subsistiram, tais como o futuro do modo indicativo e o imperativo do futuro. O futuro do modo indicativo das línguas neolatinas é uma forma perifrástica constituída pelo verbo haver e pelo infinitivo do verbo que se quer conjugar. Exemplo: «Eu hei-de amar» < eu amar+(h)ei; «eu amá-la-ei < eu ama(r)+la+(h)ei, etc.

Além disso, nas situações muito próximas usamos o presente do modo indicativo, o presente do conjuntivo e o imperativo. Exemplos: «Vais comigo ao cinema?», «Quero que venhas comigo», «Vem comigo».

Um futuro do modo indicativo é usado em situações menos imediatas ou condicionais. Exemplo: «Irás comigo quando puderes.»

Assim, o futuro do indicativo também é usado em frases imperativas que não se aplicam apenas imediatamente, mas com carácter permanente e vinculativo. Exemplo: «Não matarás.»

Pergunta:

Os predicados tais como «ter medo», «ter vergonha» são os predicados de que tipo? São os predicados do sujeito?

Resposta:

O verbo ter tem vários significados: «segurar, agarrar, conter, possuir, etc.» É um verbo transitivo e por isso é acompanhado por complemento obje{#c|}to dire{#c|}to. De modo prático podemos levantar a seguinte questão: «Que tem ele?» Resposta: «Ele tem medo.»

Assim, medo é complemento objecto directo.

Os predicativos do sujeito acompanham os verbos de significação indefinida: ser, estar, ficar, parecer etc. Exemplos: «ele é bonitão», «ela está linda», «nós ficámos muito felizes», «eles parecem alegres».

Pergunta:

Preciso saber qual é o aumentativo das seguintes palavras: limão, ladrão, cidadão, pão, emoção, porão, cruz e coração.

Desde já agradeço a gentileza, pois efetuei diversas pesquisas e não cheguei a nenhuma conclusão.

Tenho 13 anos e preciso concluir esse estudo.

Resposta:

Em princípio, seria possível formar o aumentativo de todas as palavras em apreço mediante a junção do sufixo -zão. No entanto, há restrições a tal uso, como se mostra nos seguintes comentários:

Limão

Como os limões têm o tamanho determinado pelas árvores onde se desenvolveram, não será fácil encontrar limões muito diferentes no mesmo lote. No entanto, pontualmente, alguém poderá dizer: limãozão.

Ladrão

Quando falamos de ladrões, sentimos alguma emoção. Por isso, é natural que digamos: «Ele é um ladrãozão.»

Cidadão

Em relação aos cidadãos, partimos do princípio de que somos iguais perante a lei. Assim, o aumentativo não tem justificação.

Pão

Em relação ao pão, existem várias qualidades, formatos etc. O tamanho não é o mais importante. Deste modo, o aumentativo sintético não é frequente. Usamos aumentativos analíticos. Exemplo: «Pão muito saboroso... muito agradável... muito guloso... etc.»

Emoção

Como emoção é um substantivo abstra{#c|}to, também a forma analítica não é usual. Preferimos aumentativos analíticos: «emoção forte... inesquecível... violenta... etc.»

Porão

Porão é uma caixa de dimensões fixas. Os leigos não sabem avaliar o volume, e os técnicos possuem conhecimentos específicos que utilizam quando necessário. O aumentativo sintético não tem portanto uso.

Cruz

...

Pergunta:

Gostaria de saber o significado do provérbio «quem porfia mata caça».ă

Obrigada.

Resposta:

O verbo porfiar possui vários significados, nomeadamente «teimar» e «insistir».

Frequentemente, os caçadores têm dificuldade em encontrar a caça que desejam. Por isso, devem ser teimosos e persistentes.

Generalizando para tudo aquilo que desejamos alcançar, devemos dedicar-nos ao trabalho com persistência para conseguirmos triunfar.

Pergunta:

Tenho ouvido a expressão «saudinha da grada» por parte de um colega meu, mas no entanto não consigo perceber:

— primeiro: se realmente existe,

— depois: se esta é a forma correcta de a escrever,

— caso exista: qual o seu sentido, e

— finalmente: a razão de ser da expressão, ou seja, de onde provém, qual a sua história e significado.

Resposta:

Grado/grada é um adjectivo com vários significados, nomeadamente, «desenvolvido» e «graúdo».

Usamos frequentemente em relação aos frutos como as cerejas e os bagos de uva.

«Saudinha da grada»é uma expressão correcta e constitui uma metáfora que compara a beleza e o sabor dos frutos com a nossa saudinha. Não podendo estabelecer-se uma data precisa para o seu aparecimento, é um bom exemplo da criatividade e da beleza que podemos encontrar no falar do nosso povo.