A. Tavares Louro - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
A. Tavares Louro
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Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas — Estudos Portugueses e Franceses pela Faculdade de Letras de Lisboa. Professor de Português.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

Qual o diminutivo e o aumentativo de aranha e de foguete?

A frase «As paredes eram castanhas, não eram?» é afirmativa, ou negativa?

Obrigado.

Resposta:

1. As aranhas vivem perto dos seres humanos, mas não são por estes estimadas ou apreciadas, antes pelo contrário. Por isso, não usamos normalmente as formas sintéticas do aumentativo e do diminutivo, dado que as formas sintéticas possuem, frequentemente, carga afectiva ou emocional. Pontualmente, poderemos ouvir aranhuçoaranhão como aumentativos de aranha.

De relevar que aranhão é, além de «aranha grande», «aguaí-vermelho (Chrysophylium maytenoides)» e «padrão ornamental da cerâmica portuguesa e holandesa que lembra vagamente um animal com diversas pernas e antenas espiraladas; us. em abas de pratos nos séculos XVII e XVIII e também em antigas faianças de farmácia» (Dicionário Houaiss).

Como diminutivo, existe aranhiço e aranhinha, mas com a particularidade de o segundo termo também ser um tipo de aracnídeo.

Para referirmos as dimensões das aranhas, usamos frequentemente formas analíticas: «aranhas enormes, pequenas, pequeninas», etc.

Usando material pirotécnico, os respectivos especialistas podem criar pequenos artefactos que produzem fogachos. Uma forma genérica para os leigos será foguetinho.

Em relação aos foguetes de grandes dimensões e longo alcance, usamos o vocábulo foguetão, que também é usado como unidade lexical autónoma, podendo significar, por exemplo, «veículo propulsionado pela impulsão obtid...

Pergunta:

Agradeço me informem o significado da expressão «fadas do lar» e sua origem.

Obrigado.

Resposta:

A expressão «fadas do lar» é uma forma delicada de nomear as senhoras que se dedicam ao embelezamento das suas casas e às artes manuais que incluem as rendas, os bordados e outras artes decorativas.

Em Portugal, existiu uma revista com o título Fada do Lar que editava esquemas e sugestões para estes trabalhos também denominados lavores femininos.

Pergunta:

Como podem os pronomes de tratamento iniciados por Sua, tal como Sua Excelência, ser de segunda pessoa, se, ao utilizarmo-los, estamos «falando sobre», e não «falando com»? Não deveriam os encabeçados por Sua ser de terceira pessoa do discurso, já que são o assunto ou o referente?

Aguardo resposta.

Resposta:

Na língua latina, a segunda pessoa do singular era usada para qualquer interlocutor qualquer que fosse a sua categoria, e a segunda pessoa do plural era usada para vários interlocutores. Ao longo dos tempos, a segunda pessoa do plural passou também a ser usada para um só interlocutor considerado de categoria superior. Esta evolução é evidente na língua francesa, em que o interlocutor com o qual não temos intimidade é tratado na segunda pessoa do plural (vous).

Porém, no português europeu, o interlocutor desconhecido ou com o qual se faz alguma deferência é tratado na terceira pessoa do singular1. O uso da terceira pessoa é uma forma de delicadeza, porque nos colocamos a maior distância da pessoa que nomeamos.

Contudo, é preciso distinguir entre Vossa Excelência e Sua Excelência, como adverte Evanildo Bechara, na sua Moderna Gramática Portuguesa (2002, pág.166):

«Emprega-se Vossa Alteza [e demais (formas de reverência)] quando 2.ª pessoa, isto é, em relação a quem falamos; emprega-se Sua Alteza [e demais (formas de reverência)] quando 3.ª pessoa, isto é, em relação à de quem falamos».

Por isso, quando nos dirigimos ao Presidente da República, dizemos: «Vossa Excelência anunciou... comunicou... esclareceu etc.». Mas, quando nos referimos a ele, diremos: «Sua Excelência, o Presidente da República, anunciou... comunicou... esclareceu... etc.»

1 No Brasil, a forma de tratamento de segunda pessoa do singular, de uso corrente, é você, usada geralmente com formas verbais e possessivos da terceira pessoa do singular.

Pergunta:

Depois de algumas pesquisas em gramáticas, continua confusa a diferença entre aspecto do verbo e valor do verbo.

Como diferenciá-los?

Resposta:

O aspecto é uma categoria gramatical que exprime a maneira como uma situação é  perspectivada.

O aspecto gramatical pode apresentar várias formas.

Perfectivo (situação terminada) — «O Rui já saiu.»

Imperfectivo (situação em curso no passado) — «O gato miava.»

Pontual — «O Rui abriu a porta.»

Durativo — «A viagem tem sido demorada.»

Ingressivo (ou incoativo) — «As árvores começavam a florir.»

Progressivo — «Não obstante a pouca velocidade, o automóvel ia andando.»

Terminativo — «Eles acabaram de comer.»

Genérico — «Uma andorinha não faz a Primavera.»

Resultativo — «Tanto andámos, que esgotámos o combustível.»

Habitual — «Levanto-me sempre cedo.»

Iterativo — «Ele tem vindo todos os dias.»

Os verbos da língua portuguesa são muito ricos porque possuem vários modos e vários tempos que nos dão diversas informações e sugestões. Eis alguns exemplos.

1 — O presente do modo indicativo pode servir para referir acções no momento presente, mas também uma acção habitual ou ocorrências no futuro próximo.

2 — O pretérito perfeito do indicativo informa sobre acontecimentos do passado e já terminados.

3 — O pretérito imperfeito do modo indicativo informa sobre acontecimentos prolongados no passado. Exemplo: «Chovia quando eu a encontrei.»

4 — O futuro do indicativo poderá ter uso numa frase imperativa: «Amar...

Pergunta:

Qual é o diminutivo e o aumentativo de jornal?

Resposta:

Jornal poderá ter como aumentativos jornalão e jornalzão, embora pouco frequentes.

Como diminutivo tem as formas: jornalinho, jornalito, jornalzinho e jornalzito.

Como diminutivo depreciativo tem as formas jornalzeco e jornaleco.