O Congresso Universal de Esperanto, o 103.º, que acontecerá, pela primeira vez, vez em Portugal, de 28 de julho até ao dia 4 de agosto, realizar-se-á na Reitoria da Universidade de Lisboa, na Faculdade de Direito da Universidade Católica de Lisboa, depois da inauguração no Coliseu dos Recreios no dia 29 de julho. Oito salões funcionarão em paralelo durante uma semana.
Os temas aí tratados podem ser de Interlinguística, Planeamento linguístico e Esperanto, mas também podem versar sobre Direito, Economia Política, Comércio, Astrofísica, Engenharias, Ecologia, Religiões e sobre muitos mais temas, em que Esperanto serve apenas de língua-veículo para palestras e colóquios. Interessante é que o Congresso tem também uma forte componente portuguesa, não só quanto ao número de congressistas portugueses (quase 50), mas também quanto à participação ativa destes, inclusive nas cerimónias de inauguração e encerramento e receções, quanto ao ensino da língua portuguesa, quanto à declaração em Esperanto de trechos de autores portugueses e quanto a muito mais.
Tradução simultânea Português-Esperanto
Comecemos pelas excursões, com cunho cultural. Estão preparadas para percorrer o continente de lés a lés, mas também os Açores e a Madeira. Os intérpretes dos cicerones das agências de turismo contratadas, que assegurarão a tradução simultânea do Português para o Esperanto, são portugueses ou lusofalantes que falam também Esperanto.
No decorrer do Congresso, terá lugar a chamada Universidade Internacional do Congresso cujo Reitor será José Martins, professor da Universidade de Aveiro. As conferências dadas no quadro desta Universidade são de especialidades científicas. O Reitor, além de coordenar os trabalhos da Universidade, fará a apresentação dos conferencistas e ele próprio proferirá uma conferência subordinada ao tema “Dinâmicas demográficas e económicas da Europa: são necessários migrantes!”.
Gonçalo Neves, autor premiadíssimo em concursos literários (prosa, poesia e ensaio) do universo esperantófono, fará uma declamação bilingue (em português e esperanto) da estrofe XII do poema “O Guardador de rebanhos” (“La gardisto de Gregoj”), obra por ele traduzida integralmente sob chamada da editora brasileira Fonto. No decorrer da Conferência de Esperantologia, fará uma palestra sobre o “Dicionário Histórico do Esperanto 1887-1889” (“Historia Vortaro de Esperanto 1887-1889”), da sua co-autoria.
“Internacionalismo e patriotismo”
O filólogo João José Santos, de Línguas e Literaturas Clássicas, ministrará um curso de iniciação à língua portuguesa para não-lusófonos, fará uma apresentação do sistema educativo português para a Liga dos professores esperantófonos, fará uma palestra sob o título “Internacionalismo e patriotismo”, enquadrada no tema geral do Congresso, e apresentará 7 títulos de livros publicados pela sua editora “La Karavelo” (“A Caravela”).
O advogado luso-angolano Miguel Faria de Bastos fará uma palestra subordinada ao tema “Portugal – História, língua, cultura e futuro”, de uma hora, com colóquio subsequente, presidirá a assembleia geral da Associação Internacional de Juristas Esperantófonos e moderará uma palestra sobre “Direito do Mar”, a ser proferida pelo professor José Maria Rodriguez, de Córdoba.
O secretário da organização nacional do Congresso, António Martins Tuválkin, entre muito mais, representará a Associação Portuguesa de Esperanto no Comité da Associação-mãe (Roterdão), tendo compilado um folheto sobre Lisboa, para distribuição pelos congressistas.
Não faltarão guitarradas de Coimbra na Feira do Movimento que ocorrerá na véspera da inauguração solene e no intervalo desta inauguração. Haverá visitas a casas de fados de Lisboa e de Coimbra e pelo menos um fado de Coimbra será cantado em Esperanto.
É Alto Patrono do Congresso o Ministro da Cultura. O Presidente da CM de Lisboa, Fernando Medina, será o anfitrião. A Comissão de Honra é constituída por treze personalidades de primeiro plano nacional, entre as quais o ex-Presidente da República, general Ramalho Eanes, a par de outras do mundo das Cátedras, Chefia das Forças Armadas, Provedoria da Justiça, Magistratura Judicial do Supremo, Carreira Diplomática, Artes Plásticas, Letras, Difusão do Português, Jornalismo e Vida Desportiva.
Uma constelação territorial e temática
O tema geral do Congresso será “Culturas, línguas, globalização: Que rumo doravante?” O Congresso tratará dos assuntos da associação-mor, que o patrocina, e da sua Academia, assim como de Interlinguística, Planeamento linguístico e Esperantologia, mas configura-se, também, como uma constelação de Congressos de Associações territoriais e temáticas (científicas, profissionais, culturais, ideológicas, religiosas, etc.), clubes e grupos, que, constroem, para os congressistas, um universo de aulas, conferências, palestras e colóquios de plúrimos ramos de saber tão diversos como a Economia, o Direito, a Medicina, a Informática, a Ecologia e a Astrofísica), assim como de artes cénicas e atividades lúdicas e desportivas. Antes, durante e depois do Congresso haverá excursões de cunho cultural de lés a lés (Açores e Madeira incluídos).
A língua foi criada no fim do séc. XIX, por L.L. Zamenhof, judeu de nacionalidade polaca, mediante seleção metodológica de raízes, afixos e desinências.
O Português é uma das 7 línguas do mundo mais parecidas com o Esperanto, quanto a léxico, fonética, morfossintaxe e semântica.
O Esperanto tem servido como língua veicular em reuniões políticas de cúpula (caso das reuniões entre Franz Jonas, presidente austríaco, e o presidente Tito da Jugoslávia), na comunicação entre o Vaticano e o mundo católico (v.g., durante décadas, nas alocuções papais do Natal e da Páscoa), dentro do movimento ecológico e do movimento dos povos indígenas do planeta. Está também reconhecido há décadas como língua litúrgica da Igreja Católica e como língua ecuménica do serviço litúrgico da maioria das religiões cristãs (católica e ditas protestantes). A maior parte dos Papas das últimas décadas usaram o Esperanto como língua de comunicação residual, no fim de mais de 50, na alocução pascal e na natalícia dirigidas aos católicos de todo o mundo.
16 regras gramaticais fundamentais
Há cerca de 30 000 obras publicadas em Esperanto (obras de raiz e traduções dos clássicos da antiguidade greco-romana e dos escritores mais reputados da Renascença e da atualidade) no campo literário, linguístico, científico, etc.). A Wikipédia esperantófona em 2014 atingira já 200 000 artigos.
O Esperanto fez-se a partir dos ramos românico, germânico e eslavo das línguas da família indoeuropeia. O seu léxico deriva principalmente de 7 línguas – latim, francês, inglês, alemão, russo, polaco e italiano. Porque as palavras se formam nele a partir de raízes e desinências e, muitas vezes, de afixos ou pseudoafixos, qual magia de plasticidade e polimorfia, o Esperanto goza de uma super-riqueza imensa em número de lexemas (formados por aglutinação) e em matizes semânticos. Pela sua regularidade (16 regras gramaticais fundamentais, sem exceções) e completude, o Esperanto alavanca a aprendizagem de outras línguas.
Na China, país com maior número absoluto de falantes de Esperanto no mundo, este, por decreto do Governo de 1982, foi introduzido no currículo das Universidades a par das línguas estrangeiras. Nesse país, catedráticos das cadeiras de Inglês e Latim costumam recomendar aos seus discentes a aprendizagem do Esperanto como língua propedêutica na mira daquelas duas.