«(...) «[Alíngua comum] pode ser um elemento importante para os países de expressão portuguesa, mas não nos faz lusófonos; "lusógrafos" sim. (...) ».
«Eu não gosto muito da expressão lusofonia. Somos escritores de diversos países que usam a língua portuguesa como língua de contacto, como língua de expressão, mas não é uma cultura lusófona» – afirmou o escritor cabo-verdiano Germano Almeida, um dos mais proeminentes escritores em língua portuguesa e figura homenageada pelo festival Escritaria, que se realiza em Penafiel (distrito do Porto) até 31 de outubro p. f.
As declarações de Germano Almeida foram produzidas na conferência de imprensa do evento que se realizou em 28 de outubro de 2021 no museu municipal de Penafiel (distrito do Porto). O escritor acrescentou ainda: «Nós temos muitos pontos comuns, obviamente, sobretudo Cabo Verde, que é um país feito pelos portugueses. Mas as ilhas – não só a sua orografia, mas sobretudo a ausência de meios de vida, a falta de chuva, sobretudo – fizeram de nós pessoas diferentes».
Segundo o autor, «é isso que a gente tenta traduzir na literatura e na música».
«Isto [língua comum] pode ser um elemento importante para os países de expressão portuguesa, mas não nos faz lusófonos; "lusógrafos" sim», observou aos jornalistas.
Sublinhando que teve sempre com Portugal, onde estudou e fez serviço militar, «uma relação ótima», ressalvou que os portugueses não fizeram dos cabo-verdianos portugueses. «Portugal foi sempre uma presença estranha. Nunca me senti português, sempre me afirmei cabo-verdiano. Mas, se um dia Cabo Verde desaparecesse, o país que eu adotaria seria Portugal, mais nenhum outro», acentuou.
Germano Almeida terá silhueta e frase em Penafiel para memória futura, a par com os anteriores homenageados. No sábado, será lançado o novo romance de Germano Almeida, A Confissão e a Culpa, o último volume da sua Trilogia do Mindelo.
O Festival Literário Escritaria conta também com a presença do ministro da Cultura de Cabo Verde, Abraão Vicente, que participa na conferência "O papel da Lusofonia: à conversa com Germano Almeida e Abraão Vicente”, bem como noutras iniciativas incluídas na programação oficial do festival, até 31 de outubro.
O festival literário Escritaria de Penafiel inclui dezenas de atividades dedicadas ao livro, ao teatro, a exposições, música e artes de rua. Lídia Jorge, Pepetela, Manuel Alegre, José Saramago, Alice Vieira, Mário de Carvalho, Mário Cláudio, Agustina Bessa-Luís são alguns outros escritores homenageados em edições anteriores do festival.
Notícia disponível na revista MAG no dia 27 de outubro de 2021 (texto adaptado).