A questão que coloca é interessante, sem dúvida, e creio que pode ser analisada segundos dois pontos de vista:
– por um lado, a utilização comum que todos fazemos da língua e do vocabulário que temos ao nosso dispor…
– por outro lado, a utilização pelos investigadores e teóricos da escrita.
No caso do uso geral da língua, é muitas vezes difícil explicar a razão que leva a que determinadas palavras se imponham em detrimento de outras. No caso em análise, uma possível explicação para a generalização de lusofonia poderá advir de uma prática que se foi impondo talvez porque inicialmente a difusão fosse sobretudo oral. Neste sentido e tendo em conta o uso de lusofonia e de lusografia, prevalece o vocabulário mais associado ao registo oral do que ao registo escrito: identificamos os falantes de uma língua e agrupamo-los em -fonias (lusofonia, anglofonia, francofonia…). E a verdade é que esta palavra se impõe a outras. Raramente usamos neste contexto termos como ouvinte, ou escrevente, ou leitor, ou lente.
No segundo caso, estamos a falar já não do vocabulário em geral, mas de uma terminologia, utilizada numa área de investigação, criada, ou definida, para essa área, em que, a cada conceito, tem de, necessariamente, corresponder apenas um termo. Neste sentido só os investigadores poderão explicar o motivo da opção que foi feita. Eventualmente, essa explicação poderá estar em obras da especialidade destinadas a públicos especialistas.
A título de curiosidade poderei acrescentar que a palavra lusografia tem alguns espaços de utilização específica. É usada pelos galegos, que procuram encontrar e difundir uma grafia uniformizada para a sua (nossa!) língua, como pode verificar em http://www.lusografia.org/.
É também usada, por exemplo, para estudar a literatura de países lusófonos. A ilustrar cito Jean-Michel Massa, que, num artigo intitulado A Lusografia Africana, diz a certa altura: «Em 1849, aparece também, em Luanda, o primeiro livro nacional, Espontaneidades da minha alma, de José da Silva Maia Ferreira que evoca a realidade angolana. Nasce a lusografia literária e começa a existência de literaturas que não direi autónomas mas já diversificadas.»