Pelourinho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Registos críticos de maus usos da língua no espaço público.
Um cem sem sentido

 

Percebe-se a ideia: Paulo Bento faz o 100.º jogo como treinador do Sporting, coincidindo com o castigo que lhe fora aplicado pela Comissão Disciplinar da Liga Portuguesa de Futebol Profissional. Só que a ideia saiu pela culatra. Ou seja: um cem sem sentido. Fica entretanto a dúvida: saberá o imaginoso tituleiro da manchete do “Record” que a preposição sem é homófona do numeral cem?

«Nós, Rei de Portugal pela graça de Deus, fazemos saber que…» Era assim que, na Idade Média, os monarcas se dirigiam à Nação. A voz do rei era a única com legitimidade para usar da palavra em nome de todos. Daí que o uso da primeira pessoa do plural (nós) para dizer eu tenha recebido a designação de plural majestático. Este nós majestático tinha também o correlativo vós: «Vós, Senhor…»

 Julgados por alegadas burlas com fundos europeus

UGT: Torres Couto, João Proença

e Oliveira e Costa absolvidos


17.12.2007 - 14h09

Por
Lusa, PUBLICO.PT</...

De um modo geral, a redundância, isto é, a reiteração de uma informação num sintagma ou frase, é descrita, no comum dos prontuários, como um deslize de linguagem: «Descer por ali abaixo» ou «Entrar por ali dentro» são exemplos de redundâncias.

Dicionário: «Hermetismo — doutrina semelhante ao ocultismo, ao esoterismo e à alquimia, que supõe relações íntimas, correspondências misteriosas entre todas as porções do Universo; carácter do que é incompreensível.»

Exemplos — retirados das duas últimas edições do Expresso, suplemento Actual, secção Música: «psicadelismo aristocrático das origens»; «qualquer coisa ...

« —  Stora, como se escreve "cóque"?

—  "Coq" é francês…

—  Francês? Não! Eu quero escrever: Eu sou mais esperto "cóque" (que o que) se julga…»

O episódio teria piada se fosse anedota, mas como não é, e como se passou numa escola portuguesa — como tantos outros episódios similares —, não tem piada nenhuma.

Há muitas pessoas que falam português desde o berço e que duvidam que a construção «mais bem preparado/feito/arranjado» seja absolutamente correcta; ou que dignitário exista nos nossos dicionários, por exemplo. Dizem que são formas que «soam mal». Poriam as mãos no fogo por "melhor preparado" ou "dignatário".

Quer isto dizer que as formas que hoje soam mal aos falantes vão, mais tarde ou mais cedo, cair em desuso? Talvez sim.

«Tinha pago ou pagado/morto ou matado»? O nosso leitor Carlos Dinis quer saber porque é que, havendo regras que ditam que com ser e estar devemos ter o particípio irregular (pago) e com ter e haver, o particípio regular (pagado), usa-se mais o pago do que o pagado? O nosso leitor sabe que «tinha pagado» é a forma correcta, mas admite que ela… «soa um pouco mal».

Coisas do desconhecimento da língua…

 

"PORQUE NÃO TE CALAS?"*

Por que não te calas?”, afirmou o rei Juan Carlos de Espanha ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, quando este interrompeu o primeiro-ministro espanhol, Rodrigues Zapatero, no momento em que pedia “respeito” para José Maria Aznar, a quem Chávez tinha, pelo segundo dia consecutivo, classificado de “fascista”.

* in Correio da Manhã, de 11 de Novembro de 2007

O desconhecimento da língua tem destas coisas. O rei  de Espanha não podia ter afirmado, porque estava a perguntar.

Que a língua varia, toda a gente sabe; que um mesmo falante pode activar diferentes variedades, também. Numa cimeira internacional, por exemplo, não se fala como no café entre amigos.

Há quem pense, no entanto, que isto acontece por uma questão de etiqueta ou requinte linguístico; que usar o nível de língua cuidado é como pôr fato e gravata e fazer salamaleques para não se ficar malvisto (ou, agindo pela negativa, para dar um ar de modernidade ou de originalidade).