«Critérios, há-os, mas depois existe toda uma arbitrariedade pessoal…»
Esta controvérsia opôs durante décadas os classicistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) aos classicistas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC).
Na FLUL, dizíamos sempre Posídon, com o argumento de que a sequência de letras -ei- nas palavras gregas evoluiu naturalmente, nas línguas modernas (pelo menos em muitos casos), para -i-:
ícone (grego: eikon)
academia (grego: akademeia)
farmácia (grego: farmakeia)
Ver também uma palavra portuguesa em que o -i- corresponde a um -ei- grego: dizer.
Além disso, a tendência natural do -ei- do grego antigo foi evoluir para -i-, mesmo dentro da língua grega: em grego moderno, -ei- é pronunciado -i-. Em latim já vemos a evolução de ei para i: Odisseia (grego); mas em latim, Odissia. Dareios (grego) = Dário/Dario. Eirene (grego) = Irene etc. etc.
No entanto... a dada altura a Doutora [Maria Helena da] Rocha Pereira começou a preferir, em português, as grafias gregas antigas. E é facto que ela escrevia sempre Posêidon, alegando que o som "ei" lembrava o som do mar...
Critérios, há-os, mas depois existe toda uma arbitrariedade pessoal… Depende de cada um. Pesará mais o critério ou o gosto pessoal – o sentido estético? Enfim.
Há «mais correcto» e «menos correcto» neste assunto?
Acho que se trata de uma controvérsia inútil.
Quem diz Posídon tem sólido apoio filológico para essa opção.
Quem diz Posêidon gosta do som do grego antigo... o que não é defeito.
N. E. – Na imagem, Posídon, estátua de mármore proveniente da ilha de Milo (ou Melos/Melo), século II a. C., no Museu Arqueológico Nacional de Atenas (fonte: Britannica).
Publicação no Facebook do professor universitário, classicista, tradutor e escritor Frederico Lourenço no dia 17 de janeiro de 2023.