Ultimamente, a palavra Europa tem ecoado pela sociedade portuguesa, em parte devido às eleições para o Parlamento Europeu que se vão realizar em junho, mas também porque este verão acontece na Alemanha o campeonato de futebol em que as principais seleções do velho continente competem entre si. Todavia, Europa não é o único vocábulo que se ouve por aí, outros, relacionados com os seus campos lexical e semântico, como, por exemplo, europeu, europeísta ou europeísmo, estão igualmente presentes nas conversas de café e nos órgãos de comunicação social. Neste sentido, é pertinente questionar que história contam estas palavras e como funcionam no âmbito da língua portuguesa.
Europa é um termo de origem grega (Εὐρώπη) que terá chegado ao português por via da palavra latina Eurōpa. De acordo com Maria Helena da Rocha Pereira, em “Europa: os enigmas do nome”, este nome próprio terá aparecido pela primeira vez na obra “Teogonia”, de Hesíodo, para designar uma figura mitológica, filha de Tétis e Oceano. Mais tarde, este nome aparece num fragmento comentado da Ilíada para referir uma princesa fenícia, amada de Zeus e filha de Fénix. No entanto, não existe consenso até mesmo entre os historiadores da antiguidade clássica sobre qual destas mulheres deu realmente nome ao velho continente. Já o historiador alexandrino Hegesipo aconselhava, tal como indica Maria Helena da Rocha Pereira, prudência em relação à origem do nome, afirmando que «quanto à Europa, ninguém entre os homens sabe se é toda banhada pelo mar, nem de onde o tirou o seu nome, nem quem lho pôs». Apesar disto, o certo é que a aplicação geográfica do nome Europa ocorre pela primeira vez no “Hino Homérico a Apolo”, nos seguintes versos: «Quantos senhoreiam o fértil Peloponeso / e quantos moram na Europa e nas ilhas cercadas pelo mar». Por conseguinte, embora a sua etimologia seja obscura, o facto é que Europa é, nos dias de hoje, entendida como um pequeno continente, ou seja, é utilizada como topónimo.
A partir do nome Europa, existem outras palavras que servem para designar tudo aquilo que rodeia o ambiente e a vida em seu torno. Neste sentido, o vocábulo europeu, que tanto pode ser usado como adjetivo ou nome, é um exemplo disso. Europeu, enquanto adjetivo serve, como indica o Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa (DLPACL), para designar «relativo ou pertencente à Europa» ou também «relativo ou pertencente à União Europeia», já enquanto nome pode definir, segundo a Infopédia, «natural ou habitante da Europa» ou ainda, na aérea do desporto, «campeonato em que competem atletas ou seleções de países da Europa». Etimologicamente, europeu terá origem na palavra grega Eὐρωπαῖος, mas que chegou ao português através do termo latino europaeus. Do ponto de vista morfológico, este vocábulo tem na sua formação o sufixo nominal -eu, cuja origem é latina e serve para exprimir a ideia de origem ou pertença, em relação à palavra primitiva que, neste caso, é Europa. No que concerne ao género, europeu é uma palavra masculina, sendo o seu equivalente feminino o termo europeia.
Para além deste, vocábulos como europeísta ou europeísmo são igualmente usados por estes dias. Europeísta pode ser um adjetivo que é frequentemente usado na área da política para referir quem «admira tudo o que é europeu; que gosta de coisas europeias» ou «que é a favor da União Europeia» (DLPACL). Pode também ser um nome que menciona um «admirador de tudo o que diz respeito à civilização europeia» ou uma «pessoa que se manifesta a favor da União Europeia» (DLPACL). Numa perspetiva morfológica, este termo deriva do topónimo Europa ao qual se juntou o sufixo -ista, de origem latina e que exprime a noção de «partidário de um sistema político, filosófico, artístico ou religioso (comunista; iluminista; socialista)» (DLPACL). Já o nome europeísmo também deriva da palavra Europa e tem como aceções «admiração ou gosto por tudo o que diz respeito à Europa», «caráter do que é europeu» ou ainda «posição política de quem é a favor da União Europeia». Na sua morfologia, ocorre o sufixo -ismo, que tem uma origem grega (-ισµóς) e chegou ao português através do étimo latino -ismus e serve para exprimir a noção de «sistema político (comunismo); doutrina religiosa (cristianismo); fenómeno linguístico (galicismo); sistema filosófico (marxismo); corrente artística ou literária (expressionismo)» (DLPACL).
Resumidamente, independentemente da sua história e sentido, a palavra Europa é hoje o denominador comum de um conjunto de países e povos que, embora tenham diferenças e cicatrizes profundas, fruto das difíceis relações que têm mantido uns com os outros ao longo dos séculos, o devem assumir como um fator que os une.