A recente Conferência dos Oceanos, realizada em Lisboa, chama-nos a atenção para a palavra oceano. Esta teve origem no grego e foi primeiro um nome da mitologia grega. Oceano era um deus, foi o primeiro dos titãs. Filho de Urano, a divindade que representava o Céu, e de Gaia, a mãe-terra, Oceano era o deus que personificava todas as fontes de água doce e toda a água corrente. Na poesia, era referido como o «rio que circunda o mundo».
Os mitos associados a Oceano mostram-no como um deus apaziguador e tranquilizador. Com efeito, conta a mitologia que Oceano recusou atacar Zeus, o deus dos deuses, e também que era no Oceano que Hélio, deus do sol, mergulhava ao final do dia para poder descansar antes de voltar a conduzir o carro de ouro que atravessava os céus levando a luz à Terra.
Este nome divino deu depois nome às águas salgadas, que guardam a marca de um ser divino que, na imaginação dos homens, procurava a tranquilidade e a paz. Mas, são estes mesmos homens que desrespeitam as águas e a sua missão de trazer e permitir vida ao mundo, insistindo em destruir o oceano um pouco por toda a parte.
Talvez por tudo isto seja possível que, pacificamente, Oceano, o deus, aguarde no fundo das suas águas, esperando que o mundo reconheça a importância da vida e do recomeço. Antes que seja tarde de mais.
Áudio disponível aqui:
[AUDIO: Oceano_CarlaMarques]
Crónica incluída no programa Páginas de Português, na Antena 2, no dia 10 de julho de 2022.