Penso que o consulente se está a referir à forma diferente de pronunciar as letras j, antes de a, o e u (ex. português jamais vs. castelhano “jamás”), e g, antes de e e i (ex. português gente vs. castelhano “gente”. Para já, é preciso esclarecer que, neste aspecto, o português é relativamente mais conservador que o castelhano quanto à pronúncia destas letras. Sem recuar ao latim, basta dizer que tanto o português antigo como o castelhano antigo tinham a mesma consoante prepalatal sonora (representada pelo símbolo fonético [ʒ]) no princípio de palavras como judeu/“judío” e gente/“gente”. A partir do século XVI, documenta-se em castelhano (também em dialectos asturianos e leoneses e no galego) o ensurdecimento deste som que acaba por se confundir com a consoante prepalatal surda [ʃ] (isto é, o som da letra x no português baixo). Isto explica que, de modo semelhante ao do galego actual, os falantes do castelhano do século XVI começaram a pronunciar “xente” em lugar de “gente”. Contudo, o castelhano foi mais longe que o galego. A consoante prepalatal surda de “gente” e “baxo” («baixo») sofreu nova alteração, desta vez no ponto de articulação, porque se tornou uma consoante fricativa velar, representada pelo símbolo [χ] (som semelhante à consoante final da palavra alemã “Buch”). É por isso que em castelhano se diz “[χ]ente” e “ba[χ]o” com um som bastante diferente dos que lhe correspondem nos cognatos (palavras com a mesma origem) portugueses. Todos estes dados foram retirados ou adaptados de uma obra que recomendo: Rafael Lapesa, Historia de la Lengua Española. Madrid, Editorial Gredos, 1981, págs. 377-379).
Cf. Regras da pronúncia das letras "g" e "j" + A pronúncia do Português Europeu