Hoje em dia, parece provocar pânico geral o uso da forma mais bem, pelo que muita gente opta pela solução que considera mais correcta, mais segura, mais elegante, até: melhor.
Nada contra o uso desta forma. Mas também nada contra o uso da primeira. O pior é quando uma e outra são erradamente usadas...
Melhor corresponde ao comparativo de superioridade do adjectivo bom e do advérbio bem. Trata-se de uma forma irregular (tal como maior em relação a grande).
O adjectivo bom não admite a forma regular do grau comparativo e superlativo (“mais bom do que”, “o mais bom”), razão por que a gramática dispõe apenas da forma irregular melhor:
(1) a. «Este creme é bom, mas esse é melhor.»
b. «Este creme é bom, mas esse é mais bom.»
Contudo, o mesmo não acontece com o advérbio bem, que admite ambas as formas – melhor e «mais bem» – dependendo do contexto linguístico em que ocorre. Ora vejamos:
1. Quando o advérbio bem modifica um verbo, pode (e deve) usar a forma irregular do comparativo:
(2) a. «O bebé da Clara come bem, mas o da Ana come melhor.»
b. «O bebé da Clara come bem, mas o da Ana come mais bem.»
2. Quando o advérbio bem modifica um adjectivo participial, ou seja, um adjectivo que provém do particípio passado de um verbo, como informado, preparado, classificado, etc., já não deve flexionar no grau comparativo ou superlativo irregular:
(3) a. «Estes alunos estão mais bem preparados do que os outros.»
b. «Estes alunos estão melhor preparados do que os outros.»
Um forte argumento a favor desta regra são os particípios irregulares, como escrito, feito, dito, cujo uso não suscita quaisquer dúvidas:
(4) a. «Este texto está mais bem escrito do que o primeiro.»
b. «Este texto está melhor escrito do que o primeiro.»
Curioso é o facto de ninguém hesitar no uso desta forma regular com o particípio passado do verbo passar – passado!
Ou, porventura, sentados à mesa de um restaurante, pedem ao empregado o bife melhor passado?!