Ao entrar num café, é comum depararmo-nos com anúncios criativos e chamativos. Um exemplo interessante é a frase que se vê na imagem: «Se o dia estiver fraco é sinal que precisa de um café forte.» À primeira vista, pode parecer que falta a preposição de antes do que, resultando em «é sinal de que precisa de um café forte». No entanto, essa omissão já é amplamente aceite e compreendida pelos clientes.
A omissão da preposição de em frases como esta tem sido objeto de discussão entre linguistas e gramáticos. Vasco Botelho de Amaral afirma, no Grande Dicionário de Dificuldades e Subtilezas do Idioma Português (1958), na entrada de que: «é correto estar certo que, não haver dúvida que, etc.» (pág. 1083). De facto, pegando no exemplo «não haver dúvida que», e ao contrário daquilo que se refere na entrada de sinal, que pede a preposição de (pág. 478), Luft, em dúvida, no Dicionário Prático de Regência Nominal (1992), admite que se trata de uma «preposição omissível antes de que» e dá como exemplo «não há dúvida nenhuma que, sob a república atual, as nossas liberdades são incomparavelmente inferiores às que nos restavam sob a monarquia» (pág. 189) .
Telmo Móia e João Peres, em Áreas Críticas da Língua Portuguesa (1995, pág. 125), também falam desta questão, discutindo a supressão da preposição antes de argumentos oracionais finitos, para a aceitar. Contudo, salientam que há um contexto em que o uso da preposição a preceder argumentos oracionais finitos é obrigatório: «trata-se do contexto em que o nome que seleciona o argumento em causa não está realizado, sendo substituído por um elemento nulo adequadamente associado a um antecedente». Por exemplo, dizem que: «a única certeza que o Paulo tinha era a [ ] de que o Luís o iria ajudar». Portanto, é impossível termos «a única certeza que o Paulo tinha era a [ ] que o Luís o iria ajudar».
Já na Gramática do Português, da Fundação Calouste Gulbenkian, a este respeito, refere-se que a omissão da preposição em orações infinitivas é impossível, mas que em orações finitas, como anteriormente visto, se encontra um novo padrão: «a omissão da preposição não causa “danos” tão severos como [em orações infinitivas], embora haja variação entre os falantes» (pág. 1528).
Em conclusão, embora a omissão da preposição de antes de que possa parecer incorreta, a prática já é amplamente aceite e compreendida no uso quotidiano. A variação entre os falantes indica uma evolução na linguagem que, embora não uniforme, reflete a flexibilidade e a adaptação natural do idioma às necessidades comunicativas. Assim, a frase «Se o dia estiver fraco é sinal que precisa de um café forte» exemplifica como a língua se adapta ao contexto sem perder clareza ou eficácia na comunicação.
Nota: Vasco Botelho Amaral apresenta «dúvida que, duvidar que» (Grande Dicionário de Dificuldades e Subtilezas do Idioma Português, pág. 1214. Na entrada do verbo duvidar, Luft afirma que, apesar de aceite, se trata de «transitividade duvidosa em duvidar que, que pode ser variante de duvidar de que, com a usual elipse da preposição diante da conjunção integrante» (Dicionário Prático de Regência Verbal, pág. 222).