«[No inglês a] perplexidade é maior por ser muito, muito fácil colocar correctamente o apóstrofo.»
Em Novembro de 2019, a Apostrophe Protection Society decidiu desistir e extinguir-se, concedendo vitória à «ignorância e preguiça dos tempos modernos».
Recebi a seguinte carta do tradutor Elysio Correia Ribeiro que transcrevo com a devida vénia:
«Porque não combate o horrível – e gramaticalmente erradíssimo – uso do apóstrofo nos plurais?
Por aí é uma fúria de DVD's e CD's quando, como sabe, o uso de apóstrofo nestes casos seria para marcar o possessivo: "do DVD" e "do CD". E não DVDs e CDs.
O pior é que cada vez começo a ver mais este erro em textos... ingleses!
Estes são apenas dois exemplos, mas cada vez que há um plural de uma palavra inglesa – ou às vezes supostamente inglesa – lá vem o apostrofozinho...
Desejo-lhes bons desconfinamento's”.
Pois. Em Novembro de 2019, a Apostrophe Protection Society decidiu desistir e extinguir-se, concedendo vitória à “ignorância e preguiça dos tempos modernos”.
Uma das razões dadas por John Richards para esta desistência, depois de 18 anos de luta, foi «aos 96 anos, estou a reduzir os meus compromissos». A outra foi «haver cada vez menos instituições e indivíduos preocupados com o uso correcto do apóstrofo na língua inglesa».
É verdade. Felizmente a reacção à desistência foi tão aparatosa que o website ameaça agora continuar de pé por mais uns tempos.
A perplexidade é maior por ser muito, muito fácil colocar correctamente o apóstrofo. Nem é preciso comprar livros. Há online um guia gratuito e brevíssimo da Oxford University Press que diz tudo o que há a dizer sobre o apóstrofo e sobre as outras grandes questões de pontuação.
Leia e verá que, de um momento para o outro, aparecerão apóstrofos erradíssimos em toda a parte.
Crónica do escritor Miguel Esteves Cardoso, incluída na edição de 25 de junho de 2020 do jornal Público (mantém-se a ortografia seguida pelo texto original).