As normas ortográficas são muito claras no uso do apóstrofo. Segundo a Base XVIII do Acordo Ortográfico de 1990, o apóstrofo é usado em quatro casos distintos: • a) ex.: d’Os Lusíadas; • b) ex.: d’Ele, n’O, lh’A; • c) ex.: Sant’Ana; e • d) ex.: borda-d’água.
Há, nos quatro casos, cisões com elisão de vogal.
No entanto, em b) admite-se que não haja elisões e se inverta a cisão já feita, para realce da forma pronominal: • no era em O, agora com realce, e fica n’O (a maiúscula no interior: *nO seria contrária às regras).
Contudo, no caso de lo, acontece que é, ela própria, uma forma pronominal: pronome possessivo oblíquo da 3.ª pessoa (arcaica, era também: artigo definido e pronome demonstrativo, do latim ilu-, aquele). Assim, não parece que sejam legítimas as formas acima *“adorá-l’O, acusá-l’O, Amá-l’O”. Sublinha-se que, de facto, no exemplar do Evangelho em meu poder editado pela Difusora Bíblica, se lê em Mateus 2, 2: «Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? ..... Viemos adorá-Lo» O realce quanto à divindade é dado pela maiúscula inicial do pronome lo; ora, se será de esperar o máximo cuidado com o realce na veneração, é da parte da redação oficial do Evangelho. Também é este critério que uso.
Parecer pessoal com tolerância:
Repare-se, porém, que no exemplo lh’A (para a Mãe de Jesus) a norma dá alguma liberdade. Já não temos uma substituição com realce `do pronome como seria antes da cisão, mas também a conversão do pronome reto em oblíquo Ela → A, e é este último que se realça na conjugação pronominal. Então, penso que “não estamos a violentar a língua” se considerarmos que o l, em lo, é arcaico, e que, nas formas pronominais em apreço, com l’O, o que nos interessa é sublinhar o pronome pessoal O, pois o l não nos diz nada quanto à divindade. Neste raciocínio, não vejo como se possam recusar as formas em dúvida. A língua é generosa.