DÚVIDAS

O apóstrofo, novamente

1 - Na expressão Expo ´98, para quem assim prefere escrevê-la, não será que o apóstrofo pertence à segunda palavra, denotando a supressão dos primeiros dois algarismos de 1998?
2 - As normas ortográficas, quer as do presente Acordo, quer as do novo Acordo, nada dizem sobre espaços a observar antes ou depois de apóstrofos. Isto, claro, porque se trata de matéria tipográfica e não ortográfica. O espacejamento que D´Silvas Filho julga discernir nos textos dos acordos, serão o mero resultado de acidentes ou regras de composição tipográfica.
3 - Em sua tentativa de escrever em luso-brasileiro, D´Silvas Filho deveria ser mais cuidadoso. No texto em apreço, por que não assinalar também facto/fato e linguístico/lingüístico.
4 - Já agora, ninguém melhor que D´Silvas Filho para nos explicar a razão daquele apóstrofo no pseudônimo que escolheu.

Resposta

Já estava a calcular que a minha frase provocante «não tem lógica nenhuma» (na minha opinião…) iria dar origem a controvérsia. Quando estabelecemos regras na Língua com base em raciocínios lógicos, o mais certo é aparecerem logo lógicas diferentes.

1 — Claro que também se pode defender a grafia «Expo ´98». Se estiver registada (como escrevi), é até perfeitamente legal. Se não, continuo a pensar que lhe falta `a minha´ lógica, porque: —a) A palavra «Expo» não foi encontrada nos diversos dicionários portugueses que consultei. Aurélio já regista «expo», mas com a indicação de que se trata de termo estrangeiro (e com pronúncia ¦eks¦, enquanto em Portugal recomendamos a pronúncia como em exposição). Não é, portanto, uma palavra oficialmente aprovada, carecendo de ponto ou apóstrofo nas letras suprimidas.

–b) Assim, aceitando que o apóstrofo se destinaria a suprimir «19», em 1998, poder-se-ia argumentar que faltaria outro apóstrofo para suprimir «sição» em Exposição. —c) Estabelecendo-se que «expo» é um neologismo, dispensando o apóstrofo, também se pode responder que os dois últimos algarismos são, isso sim, há muito, a abreviatura dos anos, dispensando igualmente o apóstrofo. —d) Concluindo, nesta `minha´ lógica, as grafias só podem ser Expo-98 (o hífen a estabelecer o sentido único necessário, como já aparece nalguma imprensa), ou «Expo´ ´98», ou, mais naturalmente, Expo´98, sem espaços, escolha feliz.

2 — Efectivamente/efetivamente, as normas nada recomendam sobre os espaços no apóstrofo. As minhas conclusões basearam-se na observação de diferentes textos impressos. Pelo menos, parece haver uma regra tipográfica. E aceitei que a premissa pudesse ser controversa no raciocínio; daí, eu ter escrito também: «na minha opinião».

3 — Sou português, com formação no meu país, e é natural que os hábitos linguísticos influenciem o meu fluxo de pensamento. Presumo que a sua observação sobre o meu luso-brasileiro seja um estímulo para aperfeiçoamento, e não uma censura como parece. Esclareço que não considero luso-brasileira esta minha forma de escrever na Ciberdúvidas, dado que não me preocupo com diferenças semânticas ou sintácticas (que até nos enriquecem); a preocupação é meramente ortográfica, para não confundir os irmãos do Brasil com grafias estranhas no seu país (e julgo que o consulente também será brasileiro, pela forma como escreveu «pseudônimo», pois que em Portugal se escreve pseudónimo). Este processo traduz o meu inconformismo com as diferenças gráficas injustificáveis na nossa comum Língua. Aceito que deveria, de facto/fato, ter sido mais cuidadoso no texto em referência. Embalado na `exposição´, descurei este meu propósito humilde. De futuro procurarei estar mais atento, embora não possa prometer que me irei lembrar sempre e em tudo.

4 — O apóstrofo em D´ Silvas Filho suprime o e em De. A explicação ficcional e a justificação técnica podem ser encontradas nos meus livros. Não me parece bem fazer pessoalmente a publicidade dos meus trabalhos neste `sítio´.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa