Frequentemente, cruzamo-nos com o termo woke, na comunicação social, por exemplo: «Guerra à cultura woke. "Este é um pânico que parece replicar velhos padrões"», «Jorge Soley: “O movimento woke acha-se moralmente superior”», «A etiqueta virou woke» ou «Se ser civilizado é woke…». É, certamente, um anglicismo que entrou na língua portuguesa, e não só, e que veio para ficar, sem existirem mostras de se encontrar um termo equivalente em português.
De que se trata, então, quando se usa a palavra woke?
Antes de mais, entenda-se que a forma woke é o passado simples do verbo wake – «acordar» – e, dialetalmente, uma variante do respetivo particípio passado, que pode ser waked e woken, e que mais recentemente passou a ter uso adjetival com o significado de «estar consciente sobre temas sociais e políticos, especialmente o racismo» (Oxford Dictionary). De facto, foi com o movimento Black Lives Matter que o termo ressurge com esta conotação1.
Em português, claro, o termo já se encontra também dicionarizado com o significado de «que ou aquele que está consciente da gravidade das injustiças sociais existentes (nomeadamente no que diz respeito a questões de discriminação e racismo), agindo de forma ativa para as combater» (Infopédia). Contudo, desengane-se quem acha que esta é a única aceção associada ao adjetivo. De facto, o termo é ainda utilizado com sentido depreciativo, em inglês e, claro, nas línguas às quais o adjetivo chegou, significado que pode inferir-se das notícias acima citadas: «que ou aquele que fomenta o politicamente correto e a cultura de cancelamento ao advogar propostas irrazoáveis ou extremistas com base em posições de superioridade moral» (ibidem).
Contudo, se por um lado woke chegou à língua portuguesa e, como estrangeirismo, lhe é dado o tratamento devido, por outro já há um termo que daí advém e que se encontra aportuguesado: wokismo, nome masculino formado a partir do adjetivo inglês woke e do sufixo -ismo – «conjunto de ideias e ações em defesa dos direitos das comunidades discriminadas» e, no sentido depreciativo «movimento ou conjunto de pessoas que fomentam o politicamente correto e a cultura de cancelamento ao defenderem propostas irrazoáveis ou extremistas a partir de uma posição de superioridade moral» (Infopédia).
Não raras vezes, também já se ouve falar dos wokistas. É nome e adjetivo igualmente bem formado – woke + -ista –, mas que, até ver, não se encontra nos dicionários portugueses. Já o seu significado prende-se com o «defensor dos direitos das comunidades negras norte-americanas ou de outras comunidades que tenham sido vítimas de discriminação».
1 O primeiro uso de woke como adjetivo data de 1891, na escrita de Joel Chandler Harris, de acordo com o Oxford English Dictionary.