Com o início de mais um ano letivo em Portugal, muitos professores encontram nas suas salas de aulas grupos de alunos heterogéneos e com caraterísticas linguísticas muito diversificadas, resultado da multiculturalidade crescente em muitas escolas públicas portuguesas. Este desafio recente exige que, para além de se priorizar a integração social, se favoreça a aprendizagem da língua portuguesa, uma vez que é este o idioma usado para transmitir conhecimentos. Sem que a sua aprendizagem seja feita, nada poderá funcionar, o que levanta as seguintes questões: como abordar o desafio da aprendizagem da língua portuguesa numa aula que não é de Português? E, nas aulas de Português, como trabalhar os aspetos relacionados com a língua e o seu funcionamento com grupos de alunos que apresentam situações linguísticas com diferentes exigências?
Alguns dos desafios trazidos pelo multiculturalismo às escolas portuguesas advêm da presença de alunos provenientes dos países de língua oficial portuguesa, cujas variedades apresentam diferenças significativas em relação à variedade europeia, como é o caso dos muitos alunos provenientes do Brasil. Apesar de o idioma ser o mesmo, entre o português europeu e o português do Brasil existem diferenças assinaláveis ao nível da prosódia, da ortografia, do léxico, da pragmática e, até mesmo, das regras sintáticas. Isto obriga a que haja uma adaptação linguística não só por parte destes estudantes, mas também dos professores que os ensinam, uma situação que levanta diversas questões, como por exemplo, se será correto o professor assinalar como erro opções que são incorretas em português europeu, mas que são corretas na variante do aluno.
Se se assumir a posição de que a escola não deve ser castradora da variação linguística, então, é preciso que todos os agentes educativos ganhem consciência de que todas as variedades do português são legítimas e de que nenhum aluno deve ser prejudicado por comunicar numa variedade diferente daquela usada no ensino. O problema está no facto de muitos professores não saberem como lidar com este tipo de questões. Face a esta situação, talvez fosse interessante apostar, independentemente da área científica dos professores, num tipo de formação que visasse fornecer ferramentas e métodos que ajudasse a escola a lidar da melhor forma com este tipo de situações.
No fundo, Portugal está, felizmente, a tornar-se num país cada vez mais multicultural e isso reflete-se na escola e, sobretudo, no ensino da língua portuguesa. Seria imperativo que as comunidades educativas e a sociedade em geral começassem a discutir e refletir sobre a forma como enfrentar este tipo de desafios, para que as crianças e jovens possam ser capazes de se adaptar da melhor forma ao país e ao sistema educativo que os acolhe.