Na sua controvérsia com Maria Helena Mira Mateus, o texto de Teolinda Gersão surgiu, impresso, numa mesa da minha sala de professores, uns dias antes de o encontrar aqui, no Ciberdúvidas. Considerei-o mais literário que didático. Pelos vistos, Maria Helena Mateus levou-o mais a sério. Não tomo partido, mas, já que Maria Helena Mira Mateus invoca, como exemplo, o Dicionário Terminológico, colocaria, à sua consideração, a reflexão que se segue.
Em rigor, todo o predicado é um predicativo do sujeito, uma vez que se define como aquilo que se atribui ao sujeito. Mas a sinédoque tem uma razão de ser, que, lamentavelmente, se perdeu pelo caminho das gramáticas: é que o predicativo do sujeito é mais intimamente predicativo do que os outros, porque é intrínseco ao sujeito. E é esta qualidade que realmente o distingue e faz toda a diferença.
Como este detalhe desapareceu da análise sintática, os gramáticos resolveram o assunto, elencando uma pequena lista de verbos que, supostamente, pediriam (agora diz-se selecionariam, e muito bem!) nome predicativo do sujeito. Com o tempo e perante os factos, essa lista foi crescendo.
Acontece, porém, que nem estes verbos listados, mesmo na versão alargada, são os únicos que podem integrar um predicado com nome predicativo do sujeito, nem os mesmos exigem sempre o referido predicativo. E o assunto desembocou, em forma de lei (como se o raciocínio se decretasse!), nesta obra-prima do já famoso Dicionário Terminológico, onde é definido assim o nome predicativo do sujeito: «Função sintática desempenhada pelo constituinte que ocorre em frases com verbo(s) copulativo(s)...» Definição de verbo copulativo: «Verbo que ocorre numa frase em que existe um constituinte com a função sintática (...) de predicativo do sujeito.» A isto chama-se círculo vicioso!
Depois, em nota: «É possível constatar que expressões com valor locativo selecionadas por verbos copulativos desempenham a função de predicativo do sujeito, porque podem ser coordenadas com outros constituintes com a mesma função, independentemente do seu valor: (i) O João está [em Paris e muito doente]».
E se for, pergunto eu: (ii) O João trabalha [em Paris e muito feliz] – onde está a diferença?!
A lógica destas definições conduz a esta brilhante conclusão: tudo o que aparece, no predicado, à direita (se considerarmos a ordem mais natural das coisas) daquela lista de verbos é nome predicativo do sujeito. Exemplificando: na oração «O João está em casa doente», «... em casa...» e «... doente» são, igualmente, nome predicativo do sujeito!
Mas, na lógica de uma análise inteligente, não são, porque «... em casa...» modifica o predicador (verbo), e «... doente» modifica, intrinsecamente, o sujeito, sendo este, portanto, o verdadeiro e único nome predicativo do sujeito do predicado em causa.
Princípio: realidades diferentes devem ser consideradas de forma diferente.