Antologia // Portugal A palavra Pomo gerado entre a pedra e a abelhado pólen do silêncio.Um súbito desejo te despertaluz viva em fibras de coragem.Ardes em labaredas sobre a mesaonde desperto te incendeio.Forma exacta cintilas pululandona memória. Ó ar! Ó espiga!E passáro e flecha sobre mim revoas.Que mão resiste? Que bosque?Como um cão caminhas no meu rostoe a mão segue os teus passos, verdadeira.Em cachos perduras na memóriade todas as coisas viva... Joaquim Pessoa · 10 de novembro de 2009 · 3K
Antologia // Portugal Pessoas de verbo complicado Até podem não ser nada complicadas a falar nem na sua maneira de ser. Até é possível que sejam pessoas extremamente simpáticas e de trato agradável. Mas aí está. Por qualquer razão que pode ser simplesmente o desempenharem um cargo importante, o usarem um nome ilustre, o terem uma fortuna considerável, as referências que lhes são feitas trazem o tal verbo complicado. E então o senhor não vai, desloca-se; o senhor Sicrano não fala, usa da palavra; o senhor Beltrano não estuda um assunto, debru... Maria Judite de Carvalho · 5 de outubro de 2009 · 5K
Antologia // Moçambique Língua Poema do moçambicano Luís Carlos Patraquim inserto no livro Pneuma, edição Caminho, Lisboa (2009) Luís Carlos Patraquim · 8 de maio de 2009 · 5K
Antologia // Brasil Língua portuguesa Ó língua de Camões, de estrofes sonorosas, que Netuno aprendeu para encantar sereias, idioma que ensinou às virgens amorosas a ternura que vibra em trovas e epopeias! Língua de Bernardim, de lendas lacrimosas, se cantas o furor das guerras, estrondeias, mas, se falas de amor em xácaras saudosas, qual meigo rouxinol, suavíssimo, gorjeias! Língua que fez chorar a França soberana, com frases de paixão de Freira Lu... Maximiano Augusto Gonçalves · 9 de abril de 2009 · 4K
Antologia // Brasil Soneto à Língua Portuguesa Havia luz pela amplidão suspensa no azul do céu, vergéis e coqueirais... e o Lácio, com fulgores divinais, abrigava de uma virgem a presença... Era um castelo de ouro, amor e crença, que igual não houve, nem haverá jamais... Onde os poetas encontraram ideais na poesia nova, n'alegria imensa... A virgem era a Língua Portuguesa, a mais formosa e divinal princesa, vivendo nos vergéis de suave aroma! Donzela mei... Waldin de Lima · 7 de março de 2009 · 3K
Antologia // Portugal Para que te serve a língua A língua é um instrumento de prazer. Por vezes doce, por vezes amarga.Para usar e abusar. Para aceitar e para recusar. Para dizer. Para amar. Paramentir. Para lutar. Para viver.A língua pode ser meiga, suave, túrgida, bífida, trabalhadeira. Ou entãobrusca, áspera, terrível, iracunda, traiçoeira. Como os sentimentos. À flor dapele. Viriato Teles · 25 de setembro de 2008 · 8K
Antologia // Portugal Para que serve a Língua Portuguesa «Tinham sido dias complicados, febres descontroladas e sem razão aparente, ora muito altas, ora muito baixas, e o braço a inchar, e a doer horrivelmente, assim como se a carne fosse rebentar da pele – mas eu odeio hospitais, e fui tentando tudo (incluindo aquelas mezinhas que a gente já sabe que não resolvem rigorosamente nada mas que dão um grande consolo à alma – e se a alma precisava de ser consolada, meu Deus!) para ver se a coisa se resolvia a nível caseiro.» Texto da escritora Alice Vieira publicado no Jornal de Notícias de 22 de Junho de 2008 Alice Vieira · 28 de julho de 2008 · 3K
Antologia // Portugal A Língua Portuguesa Esta língua que eu amoCom seu bárbaro lanhoSeu melSeu helénico salE azeitonaEsta limpidezQue se nimbaDe surdaQuanta vezEsta maravilhaAssassinadíssimaPor quase todos os que a falamEste requebroEsta ânforaCantanteEsta máscula espadaGraciosíssimaCapaz de brandir os caminhos todosDe todos os aresDe todas as dançasEsta vozEsta línguaSoberbaCapaz de todas as coresTodos os riscosDe expressão(E ganha sempre à partida)Esta língua portuguesaCapaz de tudoComo uma mulher realmenteApaixonadaEsta língua Alberto de Lacerda · 4 de novembro de 2007 · 2K
Antologia // Portugal A nossa magna lingua portugueza * A nossa magna lingua portugueza De nobres sons é um thesouro. Seccou o poente, murcha a luz represa. Já o horizonte não é oiro: é ouro. Negrou? Mas das altas syllabas os mastros Contra o ceu vistos nossa voz affoite. O claustro negro ceu alva azul de astros, Já não é noute: é noite. 26-8-1930 Fernando Pessoa · 4 de novembro de 2007 · 5K
Antologia // Brasil No descomeço era o verbo No descomeço era o verbo. Só depois é que veio o delírio do verbo. O delírio do verbo estava no começo, lá onde a criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos. A criança não sabe que o verbo escutar não funciona para cor, mas para som. Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira. E pois. Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer nascimentos — O verbo tem que pegar delírio. Manoel de Barros · 29 de outubro de 2007 · 8K