Antologia // Brasil Casa-Grande & Senzala, Quarenta Anos1 Ninguém escreveu em português No brasileiro de sua língua: Esse à vontade que é o da rede, Dos alpendres, da alma mestiça, Medindo sua prosa de sesta, Ou prosa de quem se espreguiça. 1 Este poema é dedicado ao escritor brasileiro Gilberto Freyre, autor do livro Casa-Grande & Senzala, publicado em 1933. João Cabral de Melo Neto · 15 de fevereiro de 2010 · 5K
Antologia // Portugal Diálogo em louvor da nossa linguagem Em detrimento do latim Extrato do livro O diálogo em louvor da nossa linguagem de João de Barros (2.ª edição, feita em 1785 pelos monges da Cartucha de Évora), no qual , no diálgo entre pai e filho, subjaz a defesa do português como língua materna, e não o até então dominante latim nas elites políticas e religiosas. João de Barros · 9 de fevereiro de 2010 · 5K
Antologia // Portugal Diário (excertos) Coimbra, 23 de Julho de 1983 Ensinam português em França. E recebi-os e honrei-os como se fossem missionários da pátria a pregar civilizadoramente a um povo civilizado a boa nova de uma língua e de uma cultura que ele desconhece. Língua e cultura que deram a volta ao mundo, e continuam clamorosamente à espera da sua hora europeia. Coimbra, 9 de Outubro de 1983 Miguel Torga · 2 de fevereiro de 2010 · 5K
Antologia // Portugal A língua portuguesa e a latina Já me fizeram cargo os meus censores de ter muito latim portuguesado. Mais honra me fizeram que eu mereço. em dar sobejo preço os tais senhores, dar sobeja importância a quatro trovas que nuns borrões lancei por desenfado. e à luz dei só por míngua de dinheiro. Mas, pois tão alto vai esse arruído, permitam-me acudir por meu cliente. Se cunho português dei a latinas vozes, e é crime pôr-lhe cunho alheio. réus desse crime... Filinto Elísio · 18 de janeiro de 2010 · 5K
Antologia // Portugal Do que deveriam aprender os meninos além de ler, escrever e contar, etc. Bem sei, Ilustríssimo Senhor, que me acusarão de gastar assim o tempo nestas particularidades que pertencem à meninice, de um modo tão rasteiro e fora do discurso quer ninguém, que pretende a algum grau de literatura, gastar o seu tempo em ler o que escrevo. Mas não o julgou assim Plutarco, Quintiliano nem aqueles restauradores das letras humanas Erasmo nem Luís Vives, em muitas das suas obras, ainda que decorado com o horroroso cargo de mestre de Filipe II. Estes referidos autores pus... António Nunes Ribeiro Sanches · 11 de janeiro de 2010 · 4K
Antologia // Portugal Poema à boca fechada Não direi: Que o silêncio me sufoca e me amordaça. Calado estou, calado estarei, Pois que a língua que falo é doutra raça. Palavras consumidas se acumulam, Se represam, cisterna de águas mortas, Ácidas mágoas em limos transformadas, Vasa de fundo em que há raízes tortas. Não direi: Que nem sequer o esforço de as dizer merecem, Palavras que não digam quanto sei Neste retiro em que me não conhecem. Nem... José Saramago · 4 de janeiro de 2010 · 10K
Antologia // Portugal Musa língua é o que é Musa língua é o que é Cavalo marinho arborescente Algibeira virando bolso Língua de palmo, amiga da onça Nuínha, sem agás Pé de meia, língua de vaca Sodades só do trema, nada Não, atacador sem laço, ó cedilha Há-de haver a tua vez. A musa é eu? Jorge Fazenda Lourenço · 29 de dezembro de 2009 · 3K
Antologia // Portugal Carta ao amigo Brito * Paris, 6 de Junho de 1790 Lembras-me, amigo Brito, quando a pluma Para escrever, magnânimo, meneio. Ama o meu Brito a lusitana língua, Pura como ele, enérgica, abastada, Estreme de bastardo francesismo E que a joio não trave 2 de enxacoco 3; E quando lê, rejeita a frase espúria ... Filinto Elísio · 14 de dezembro de 2009 · 5K
Antologia // Portugal A Defesa da Língua Portuguesa Fuja daqui o odiosoProfano vulgo1, eu cantoAs brandas Musas, a uns espíritos dadosDos Céus ao novo cantoHeróico, e generosoNunca ouvido dos nossos bons passados.Neste sejam cantadosAltos Reis, altos feitos,Costume-se este ar nosso à Lira 2nova.Acendei vossos peitos,Engenhos bem criados.Do fogo, que o Mundo outea vez renova.Cada um faça alta provaDe seu espírito em tantasPortuguesas conquistas, e vitórias,De ... António Ferreira · 9 de dezembro de 2009 · 4K
Antologia // Portugal António Vieira O céu 'strela o azul e tem grandeza. Este, que teve a fama e à glória tem, Imperador da língua portuguesa, Foi-nos um céu também. No imenso espaço do seu meditar, Constelado de forma e de visão, Surge, prenúncio claro do luar, El-Rei D. Sebastião. Mas não, não é luar: é luz do etéreo. É um dia; e, no céu amplo de desejo, A madrugada irreal do Quinto Império Doira as margens do Tejo. Fernando Pessoa · 9 de dezembro de 2009 · 5K