Pelourinho «Inglês Grã-Bretanha?» Faço um pedido aos jornalistas: não escrevam nem digam «Papua Nova Guiné». Não é maneira de designar um país. Este disparate, creio que importado do jornalismo norte-americano, equivale a chamar à Holanda «Holandês Países-Baixos» ou à Grã-Bretanha «Inglês Reino Unido», etc. Se quiserem gastar palavras em vão, digam Papuásia, Nova Guiné, ou Nova Guiné, Papuásia. Papuásia é o nome antigo, hoje substituído por Nova Guiné. Papua indica o indivíduo da etnia dos papuas, uma das q... Teresa Álvares · 24 de julho de 1998 · 3K
Antologia // Portugal Pastorale Rasgo as árvores até percebercomo foiantes das vogaise regresso a casa.Tenho um rebanho de palavras à minha esperaConheço-as bemcomo o cajado onde me encosto enquanto pensoCubro os ombros de Sol efico-me de longe a olhar o rebanho.As palavras correm livres pelo pastoÉ com as mãos que eu as chamoe elas vêm submissasÉ com as mãos que as afasto«Vão-se embora palavras»Magoadas, adormecem depois. Teresa Alvarez · 23 de julho de 1998 · 3K
Antologia // Portugal O tesouro público da Língua O que é o verso e a rima? É uma nova língua? É uma nova sintaxe?... Não há duas línguas num povo, nem duas sintaxes numa língua. O verdadeiro verso rimado é o que respeita profundamente o tesouro público da língua nos seus elementos e combinações estabelecidas ; não vive à custa da ordem, da propriedade e da clareza, devida ao espírito, que está em primeiro lugar; não acrescenta nem tira nada: fala como se costuma falar, diz o que se deve dizer; e, sem a mais pequena diferença da ... João de Deus · 16 de julho de 1998 · 3K
Antologia // Portugal Não sei nada Conheço as palavras pelo dorso. Outro, no meu lugar, diria que sou um domador de palavras. Mas só eu - eu e os meus irmãos - sei em que medida sou eu que sou domado por elas. A iniciativa pertence-lhes. São elas que conduzem o meu trenó sem chicote, nem rédeas, nem caminho determinado antes da grande aventura.Sim. Conheço as palavras. Tenho um vocabulário próprio. O que sofri, o que vim a saber com muito esforço fez inchar, rolar umas sobre as outras as palavras. As palavras são seixo... Ruy Belo · 9 de julho de 1998 · 4K
Antologia // Portugal Sobre um simples significante Meados de janeiro. No aeroporto duma capital- leitores eventuais se quereis saber qualterei de ser sincero como sempre o sou e não apenas em geral:o caso que vos conto aconteceu no europeu nepal -um grupo de pessoas num encontro casualdesses que nem viriam no melhor jornalde qualquer dos países donde algum de nós seria naturalde certo por alguma circunstância puramente acidentalemprega no decurso da conversa a palavra «natal»embora a pensem todos na res... Ruy Belo · 9 de julho de 1998 · 2K
Pelourinho O médico e os «abórtos» Um médico do «não», ao comentar na SIC o referendo do passado domingo, pronunciou o plural de aborto com um o aberto que arrepia os puristas. A tendência, é certo, parece ser hoje a de abrir o o no plural, mesmo nos casos em que o plural conserva o o fechado do singular (como /dô-na/, /dô-nas/). Mas, creio, tal tendência é mais obra de doutores que ignorância de iletrados. A quem ouço /a-côr-do/, /a-cór-dos/ – erradamente – é a gente instruída (a... Teresa Álvares · 3 de julho de 1998 · 3K
Antologia // Portugal Brasil Fosse eu pintor ou músico(Pobre de sons, embora! Pálido de cor, que importa!)Sempre haveria alguém que me entendesseEm qualquer canto incógnito do Mundo.Sempre haveria alguém que me dissesse:— Músico, vem! Entra, pintor! — e abrir-me-ia a porta.Mas da palavra eu fiz a minha ferramenta.Sim, da palavra, como os loucos.E quanto sinto e penso unicamente o digo em português,Quase em silêncio, porque somos poucos.Quase em família. E só por uma vez Cabral do Nascimento · 1 de julho de 1998 · 4K
Pelourinho O "milião" "A Folha de S. Paulo" é um dos melhores diários brasileiros. Mas não só em papel. Também na Internet. Tem um serviço de pesquisa bem organizado e um manual de redacção muito útil, que explica coisas complicadas como o que significa, de país para país, um bilião (no Brasil, bilhão). Quis ver, até porque houvera polémica sobre o assunto aqui no Ciberdúvidas. E pude aprender que nós, portugueses, em Portugal, dizemos... "m... Teresa Álvares · 30 de junho de 1998 · 3K
Controvérsias 25 % ficou em casa, outra vez São de interesse as observações que o prezado consulente apresenta sobre a concordância do verbo em frases cujo sujeito é uma percentagem. É assunto um tanto controverso. Por vezes não é fácil apresentar regras fixas. Vejamos, então, as seguintes frases: (1) 25 por cento ficou em casa. (2) 25 por cento ficaram em casa. (3) 25 por cento da população escolar ficou em casa. (4) 25 por cento dos alunos ficaram em casa. (5) 1 por cento dos alunos ficou em casa. José Neves Henriques (1916-2008) · 25 de junho de 1998 · 3K
Antologia // Portugal As costas largas da língua Desagradecidos Portugueses, e desnaturais, são os que, por desculparem sua negligência, culpam a pobreza da língua. Bem sei que se na minha eloquência lançarem prumo, que lhe acharão poucas braças; mas nunca tão desleal serei à terra que na vida me sustém, e na morte consigo me há-de abraçar, que por me escusar a acuse, e por me livrar a condene... D. António Pinheiro · 25 de junho de 1998 · 4K