Português na 1.ª pessoa - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Filólogo critica acordo ortográfico <br> por recorrer à pronúncia para criar regras

«Por isso é que tem este princípio: se se pronuncia, fica, se não se pronuncia, corta-se», afirma à Agência Lusa o investigador convidado do Centro de Investigação em Educação da Universidade do Minho e investigador jubilado da Associação Piaget Internacional, que sábado profere em Coimbra a comunicação Acordo Ortográfico: SOS pelas matrizes profundas da Língua Portuguesa.

Crónica de Ricardo Araújo Pereira onde sobressai a ironia sobre a pobreza da linguagem de ataque pessoal dos políticos portugueses, desrespeitando as normas gramaticais da concordância (sujeito e predicativo do sujeito) publicada na coluna do autor, na revista Visão de 16 de Fevereiro de 2012.

É assim, prontos, então vá
Tiques «um bocado foleiros» do discurso oral

 Algumas palavras e expressões, «que não servem para nada de especial» senão como bengalas e tiques linguísticos caractetrísco do discurso oral mais empobrecido neste texto divertido, da autoria  do jonalista Manuel Halpern – publicado na edição digital do Jornal de Letras, do dia 9 de março de 2012. 

O mau uso do pronome relativo onde em duas notícias de jornal, apontado pelo ex-diretor de Informação da agência de notícias Lusa, na sua crónica semanal no jornal português i.

 

Um artigo-esclarecimento do secretário de Estado da Cultura português, depois das suas declarações à TVI 24, admitindo «melhorias pontuais» ao Acordo Ortográfico. Publicado no semanário Expresso de 3/03/2012.

 

 

É bom quando isto acontece: o país discute a sua Língua. Estamos pouco habituados a fazê-lo. Mesmo quando se trata apenas da ortografia, o debate revela que os portugueses estão disponíveis para que um tema desta natureza marque a “agenda política corrente”.

Na frase «Não se embarca tirania neste batel divinal», o termo tirania é o sujeito.

Trata-se da realização da voz passiva em português com a partícula apassivante se. No Dicionário Terminológico, é referido o emprego da partícula se como «marcador de uma estratégia de passivização (valor passivo – ocorrendo exclusivamente na terceira pessoa)», sendo dado o seguinte exemplo: «Dizem-se coisas estranhas neste país.»

Por Virgílio Dias

[Sobre a reposta de Sandra Duarte Tavares, A função sintática de tirania:]

Não há justificação nenhuma para imaginar que, na frase «não se embarca tirania neste batel divinal», «tirania» seja complemento directo.

O «se» só pode ser sujeito em orações reduzidas. Bem sei que há uma gramática de referência que autoriza tal interpretação. Mas… aliquando dormitat Homerus.

A propósito desta controvérsia [sobre a função sintática da palavra tirania na frase de Gil Vicente «Não se embarca tirania neste batel»] mantenho-me firme na minha convicção de que estamos perante um caso de ambiguidade entre a função de sujeito e a de complemento direto, dependendo da interpretação do se.

Os argumentos aduzidos por Maria Regina Rocha têm muita validade e eu não discordo de nenhum deles. Mas…

Se os analisarmos com atenção, todos os exemplos dados estão no plural:

A consulente Sofia Carreira perguntou ao Ciberdúvidas:

«Na frase de Gil Vicente "Não se embarca tirania neste batel divinal», a palavra tirania parece-me óbvio ser um complemento direto. Mas há quem defenda que se trata do sujeito (que eu consideraria nulo indeterminado). Será que nos poderiam esclarecer?»

«Parelha de tendência do povo rude para considerar a sua língua como a única de gente, existe nele uma outra, contraditória com esta: é a facilidade infantil com que o povo esquece a própria língua, mal entra em contacto com outra, e logo passa a aprender e a estimar esta com prejuízo da sua. [...] Um deles representa a tendência purista exagerada e fechada, desejosa de fazer voltar a linguagem a modelos antigos e já mortos, tratando-a como se ela fosse uma língua morta – a única língua de gente, digna de ser embalsamada, mumificada [...]. O outro, ao contrário, dá-nos o esquema do homem que a falar, e sobretudo a escrever, se deixa desnacionalizar facilmente, porque não pôde ou não quis aprender bem a sua língua, e por isso a não ama nem respeita.» Texto que reflete sobre a atitude dos portugueses perante a sua língua.