Tomo de empréstimo esta frase do antigo procurador-geral da República português, Pinto Monteiro, com a qual invetivou os deputados, a propósito de um diploma legal, para titular este caso incompreensível...
A separação por vírgula entre o sujeito e o predicado é um erro infelizmente demasiado comum nos media nacionais, razão pela qual só trago para aqui os casos mais graves, como este, ainda por cima em dose dupla, já que aparece em duas frases subsequentes, o que permite conjeturar que não se trata de um simples lapso, ou descuido, mas de um padrão de escrita. Surge no semanário Expresso, num pequeno texto publicado no caderno Emprego (n.º 2132, de 7 de setembro de 2013, p. 4) denominado O desemprego dos professores, e é da autoria do presidente do Grupo Randstad. Abordando aquilo que o autor considera as duas vertentes do problema da colocação dos professores, uma técnica e outra política, escreve-se:
«A primeira, releva da pura gestão dos recursos humanos. A segunda, resulta da conceção do papel do Estado no sistema educativo [...].»
Nenhuma das vírgulas deveria obviamente lá estar, por enfermarem do pecado capital de separar o sujeito do predicado. No limite, mas mesmo no limite, ainda consigo perceber que, tratando-se de um texto dito, e exclusivamente para governo do próprio, se pusessem ali vírgulas para enfatizar o início da enumeração, ou seja, o «primeira» e o «segunda», para marcar uma inflexão de voz que pontuasse para a audiência aquelas duas vertentes. Na forma escrita é inaceitável. Aquelas vírgulas são tão absurdas quanto inúteis.
Cf. 5 bons motivos (e 10 regras) para usar corretamente a vírgula
N.E. – O não uso da obrigatória vírgula no vocativo – seja quando ela representa um chamamento, um apelo, uma saudação ou uma evocação* – generalizou-se praticamente no espaço público português, dos órgãos de comunicação social à publicidade .Por exemplo, aqui, aqui, aqui, aqui ou aqui. Uma incorreção várias vezes esclarecida no Ciberdúvidas – vide Textos Relacionados, ao lado –, assim como noutros espaços à volta da língua portuguesa.
Cf. entre outros registos: Vocativo + Vocativo: uma unidade à parte + O uso da vírgula no vocativo, Vocativo – uma questão de vírgula + A vírgula do vocativo – Exemplos de vocativo no início, no meio e no fim da frase + 5 bons motivos (e 10 regras) para usar corretamente a vírgula.
* Por regra, no discurso direto e, geralmente, em frases imperativas, interrogativas ou exclamativas.