Recordo a Piazza Fontana, o excelente docudrama do cineasta italiano Francesco Miccichè exibido na RTP 2, no dia 13/04 p.p., é a história da persistência das famílias dos mortos de um dos mais violentos atentados terroristas da série de 140 cometidos em Itália, nos denominados Anos de Chumbo, entre 1968 e 1974. Particularmente chocante este, o da bomba deflagrada no Banco Nacional da Agricultura, na Piazza Fontana, no centro de Milão, no dia 12 de dezembro de 1969. Não tanto pela tragédia propriamente – outros houve com o triplo e quádruplo, até, de mortos e feridos –, mas pela luta continuada de 36 anos das famílias contra o encobrimento, político e judicial, dos responsáveis da rede bombista neonazi, com a cumplicidade da loja maçónica P2 e dos serviços secretos italianos e norte-americanos. Uma luta só terminada 2005 até à condenação, finalmente, dos principais envolvidos no massacre.
Pena foi a descuidada tradução e correspondente legendagem da RTP 2 – desde os recorrentes [os] média até denominarem de "anárquico*" o ferroviário anarquista Giuseppe Pinelli, falsamente apontado pela polícia como participante no atentado.
* Anarchico é o termo em italiano, anarquista em português.