Em 9 de novembro de 2023, o presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, anunciou a decisão de dissolver a Assembleia da República e antecipar as eleições legislativas para 10 de março de 2024. Desde então, como é típico durante períodos eleitorais, as sondagens pré-eleitorais têm ocupado uma posição central nas discussões públicas. Estas sondagens representam ferramentas cruciais para entender e medir a intenção de voto dos eleitores antes do dia das eleições. No entanto, além da sua importância prática, é interessante explorar a origem etimológica do termo sondagem e o seu significado, conforme registado nos dicionários.
Morfologicamente, sondagem é um substantivo formado a partir do radical do verbo sondar – sond- –, ao qual é acrescido o sufixo -agem. Este sufixo, comum na língua portuguesa, indica uma ação, o resultado de uma ação ou um processo.
No entanto, do ponto de vista etimológico, é importante destacar que o Dicionário de Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa atribui a sua origem ao francês sondage (que surge no século XVIII e deriva do verbo sonder – Dictionnaire de l'Académie française). A palavra sondagem terá sido, portanto, motivada pela francesa sondage, que foi transposta sem dificuldade para a língua portuguesa, seguindo suas próprias regras de formação de palavras. De facto, a sua ligação ao francês é inequívoca, uma vez que sondar, que está na base de formação de sondagem, também é motivado pelo francês sonder (1382) – «examinar a profundidade da água por meio de sonda, (1549) examinar, (1556) tentar conhecer a natureza de alguma coisa, (1690) enfiar uma sonda em alguma coisa para verificar se não há algo escondido ou para verificar a natureza dessa coisa» – que por sua vez deriva de sonde (sonda1), ou do verbo latino tardio subundāre – mergulhar –, hipótese que, de acordo com o Dicionário Houaiss, é menos provável.
Semanticamente, pode significar «investigação feita com uma sonda; ato ou efeito de sondar» ou «pesquisa que consiste em recolher dados através de mecanismos próprios, que permitam um resultado representativo sobre um determinado assunto» (ibidem). Ressalte-se, contudo, que, quando consideramos a sua aplicação em diferentes áreas, este substantivo assume outras aceções, não muito distantes das definições mencionadas anteriormente. Assim, na náutica, sondagem refere-se à «análise feita com a sonda para conhecer a profundidade das águas, a natureza do fundo do mar, rio ou lago». Na geologia, o termo é entendido como «operação de perfuração do solo destinada a conhecer a sua natureza, verificar e estudar a existência de lençóis de água, jazidas, etc.». Já na medicina, sondagem associa-se à «introdução de uma sonda num órgão do organismo para o estudar, nele introduzir substâncias ou dele extrair outras». Além disso, na área da investigação, utiliza-se muitas vezes como sinónimo de pesquisa.
No Dicionário Houaiss, há ainda indicação de que sondagem pode ter sentido figurado, equivalente ao uso figurado de balão de ensaio, conforme regista a mesma fonte. É possível, portanto, que sondagem se refira a uma informação não confirmada, um boato ou uma notícia que ainda não foi oficialmente verificada ou confirmada.
Em síntese, embora sondagem tenha diferentes conotações, estas estão relacionadas com a ideia de investigação, por meio de instrumentos técnicos ou métodos de pesquisa.
1 Também sonda provém do francês sonde (1220), ou é derivação regressiva do verbo sonder – sondar – ou do anglo-saxónico sund – canal do mar –, presente no vocábulo sundgyrd – «percha, vara para medir a profundidade; sonda».