Dentro da família das línguas românicas, as línguas ibéricas caracterizam-se por terem dois verbos copulativos, ser e estar, usados produtivamente em frases com características aspetuais distintas. O uso destes dois verbos está, em muitas ocasiões, estreitamente associado à distinção semântica entre predicados estáveis e predicados episódicos. Todavia, para os aprendentes de Português como Língua Estrangeira (PLE) cujas línguas maternas não distinguem estes dois verbos ou não têm verbos com as mesmas funções aspetuais, esta caraterística pode ser difícil de entender.
Em geral, os manuais e gramáticas dedicados ao ensino de PLE, de modo a facilitar a aprendizagem e memorização dos aprendentes, apresentam ser e estar de forma categorizada, disponibilizando exercícios onde estes verbos são classificados como permanente (no caso de ser) e temporário (no caso de estar). Contudo, como a distinção entre permanente e temporário é muito abrangente, de forma a incluir uma diversidade de situações de usos reais de ser e estar, grande parte dos livros didáticos exemplifica, através de contextos da vida real, as situações para o uso correto destes verbos. Com efeito, o acesso a materiais autênticos produzidos na língua-alvo é extremamente importante, pois auxilia o aprendente a perceber e assimilar padrões linguísticos disponíveis na linguagem do quotidiano.
Deste modo, frequentemente, a utilização do verbo ser é referida, nos materiais didáticos de PLE, nas seguintes situações: nacionalidade (p. ex.: «Eu sou italiano»), origem (p. ex.: «Eu sou da Itália»), local de um evento (p. ex.: «A festa é em minha casa»), datas (p. ex.: «Hoje é dia 23»), horas (p. ex.: «São três da tarde»), caraterísticas físicas dos objetos como a cor ou material (p. ex.: «A camisa é azul e é de seda»), qualidades, defeitos ou estados emocionais que se verificam normalmente (p. ex.: «Ela é simpática»), profissão (p. ex.: «Eu sou professora»), identidade (p. ex.: «Eu sou o João») e relações de parentesco (p. ex.: «Aquele é o teu pai»). Já o uso do verbo estar surge, muitas vezes, associados aos seguintes contextos: localização num dado momento/posição (p. ex.: «Agora estou na cantina da faculdade»), tempo meteorológico (p. ex.: «Está nublado»), estados físicos (p. ex.: «Estou com dores de barriga»), caraterísticas físicas que se verificam num dado momento mas não normalmente (p. ex.: «Ela é simpática, mas hoje está rabugenta»), estados emocionais que se verificam num determinado momento (p. ex.: «Ele está feliz») e atividades que se realizam num certo momento (p. ex.: «A Ana está ao telefone»).
Todavia, embora uma grande parte dos materiais didáticos de PLE tenha a preocupação em expor o aprendente a situações reais de utilização dos verbos ser e estar, o professor não pode deixar de usar em sala de aula atividades próprias que possam completar, ou até mesmo questionar, aquilo que é apresentado nos materiais didáticos em relação a este assunto. Não obstante o facto de os livros e outros tipos de materiais didáticos ajudarem muito na tarefa de aprendizagem, é necessário que o aprendente não seja apenas exposto a exemplos artificiais e criados para propósitos didáticos. É, por isso, imprescindível que o professor tenha a preocupação de mantê-lo em contacto com um grande número de situações de comunicação reais, com o objetivo de que este perceba bem as diferenças entre ser e estar.
Manuais consultados:
Oliveira, C., Coelho, L., Ballamann, M., Aprender Português 1. Texto Editores.
Oliveira, C., Coelho, L., Português em Foco 1. LIDEL.
Oliveira, C., Coelho, L., Gramática Aplicada - Português para Estrangeiros. Níveis A1, A2, B1. Texto Editores.
Coimbra, I., Coimbra O., Gramática Ativa 1. LIDEL.