Guerra é a palavra que nos chega do leste da Europa, nomeadamente da fronteira entre a Rússia e a Ucrânia.
Esta palavra que hoje usamos no português encontra a sua origem no termo germânico werra, que significava luta ou discórdia. Era uma palavra que não incluía na sua significação a ideia de conflito violento ou sangrento, pois centrava-se na ideia do desentendimento, da discórdia ou a peleja. Werra, no latim medieval, entrou em disputa com bellum, a palavra latina para guerra, e acabou por se instalar na língua. Bellum deixou no português rastos da sua existência em termos como beligerante, bélico ou belicoso, mas werra foi muito mais produtiva, gerando uma família de palavras volumosa: guerreiro, guerrilha, guerrear, aguerrido, entre tantas outras.
A palavra werra, que evoluiu em português para guerra, foi alargado os seus significados, indo da noção de conflito físico armado a conflito sem manifestação física, como a guerra ideológica ou religiosa. As manifestações de guerra foram também ganhando novos contornos com o passar dos tempos. Foi assim que se conheceram novos termos como «guerra aberta», «guerra civil», «guerra fria» ou mesmo «guerra santa».
O que é certo é que, por mais manifestações que a guerra possa ganhar, o sentimento das populações será sempre o mesmo: «A guerra e a ceia começando se ateia». Por isso, a esperança será sempre a de que o medo da guerra seja maior garantia de paz.
Cá e lá é o que se pode esperar.
Cf. Depois de 1945, declarou-se guerra à palavra "guerra", mas «em nenhuma desta escala um agressor se recusou a falar em guerra tanto tempo»Áudio disponível aqui:
[AUDIO: Guerra_Carla Marques]
Crónica incluída no programa Páginas de Português, na Antena 2, no dia 20 de fevereiro de 2022.