A estória da anedota que Rui Rio publicou no Twitter, na refrega da 2.ª volta para as eleições no PSD, já é conhecida:
Professora: Qual é a diferença entre um desastre eleitoral e um resultado jeitoso?
Zéquinha: 0,4%! Sra. professora!
[...]
No último programa “Governo Sombra” (17.1.2020), não escapou aos seus intervenientes aquele acento espúrio na palavra Zéquinha, pois claro:
«Temos Zéquinha com acento no "é"... Ora Zequinha não é uma palavra esdrúxula. O acento tónico está em "qui"; portanto, é uma palavra grave, não tem acento no "e"» – comentou João Miguel Tavares (JMT) com Ricardo Araújo Pereira (RAP) a corroborar (do minuto 6:00 ao minuto 6:30).
JMT voltou ao assunto, afirmando que RAP nunca acentua as palavras nos sítios errados, ao que o humorista respondeu:
«Não, não, as esdrúxulas (as proparoxítonas) eu respeito-as todas. Sabes que o padre Joaquim me ensinou no 5.º ano como é que se descobria a sílaba tónica das palavras, que é chamando como se estivéssemos a chamar uma pessoa – “ó alguidaaaaar!" – e aí vês onde é que está [a sílaba tónica]…»
JMT atalhou, dizendo: «ó Zequiiiiinha!» e RAP continuou:
«Exatamente, o Rio devia ter chamado “Zequiiiiinha!" e já não [punha o acento no “e”…]» (do minuto 39:46 ao 40:16).
Também ensinei esta regra aos meus alunos… Um deles, durante os testes, para saber qual a sílaba tónica de uma palavra, punha-se a “gritar” baixinho: «soziiiiinho, avoziiiiinha, someeeeente, cafeziiiiinho....» – e assim tinha a certeza de que as palavras só, avó e café, por exemplo, perdem o acento quando se lhes acrescenta um sufixo: sozinho, avozinha, somente, cafezinho...
Pois muito bem, RAP, atira-te ao Rio!
Obs.: A imagem à direita provém de Xavier Roberto, Elementos da Gramática da Linguagem Portuguesa”, Lisboa, Empresa Literária Fluminense, 1966, p. 96.
[N.E. (24/01/2020) – A forma Zequinha nunca poderia ter acento nem mesmo em Portugal, durante a vigência do Acordo Ortográfico de 1945 (AO 45). Com efeito, esta norma não previa qualquer tipo de acentuação gráfica em palavras derivadas que mantivessem abertas em posição átona pré-tónica as vogais também abertas das palavras primitivas: bejense (com e aberto na sílaba átona be-), de Beja; velhinho (com e aberto átono), de velho (ver também Rebelo Gonçalves, Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa, 1947, pp.192/193). Sendo assim, ao hipocorístico Zeca sempre corresponderia, como ainda hoje tem de corresponder, a forma Zequinha, sem acento gráfico, muito embora a vogal e da sílaba átona Ze- se mantenha aberta. Por outro lado, convém assinalar que, de José e Zé, se formam hoje Josezinho e Zezinho, sem acento; contudo, no quadro do anterior acordo, tais formas grafavam-se, com acento grave, Josèzinho e Zèzinho, respetivamente (cf. Base XXIII do Acordo Ortográfico de 1945). Este acento grave ocorria nos derivados formados com o infixo -z- com base em palavras escritas com acento agudo: café > cafèzinho, pá > pàzinha. O acento grave figurava igualmente em advérbios de modo formados com o sufixo -mente que derivassem de formas portadoras de acento agudo: fácil > fàcilmente. Tudo isto foi alterado com o Decreto n.º 32/73 de 1973 , que determinou a supressão dos acentos graves (e circunflexos) na grafia de tais derivados: cafezinho, pazinha, facilmente, portuguesmente (de português). O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 não trouxe qualquer alteração a este tipo de grafias. Sobre a antiga escrita do acento grave e do acento circunflexo nas sílabas pré-tónicas de palavras derivadas, leia-se "Mãozinha, cafezinho, etc." (04/05/2004).]
Apontamento do professor aposentado João Nogueira da Costa, que o publicou na sua página de Facebook em 19/01/2020.